JOVENS À DERIVA

     Mais de uma vez já tratei desse tema neste espaço. Volto, em data apropriada – primeiro mês do ano – para alertar sobre uma tomada de consciência de um problema tão grave que afeta as famílias e a sociedade brasileira.

     Segundo dados divulgados, em dezembro, pelo IBGE, referentes à pesquisa Síntese dos Indicadores Sociais (SIS), metade dos jovens, entre 15 a 29 anos de idade, nem trabalham nem estudam, importando em 10,9 milhões de brasileiros em plena juventude (22,3% da população dessa faixa etária). É a chamada geração nem-nem. A maior parte dessa estatística refere-se aos mais pobres, mulheres pretas e pardas (6,7 milhões).

     Não há dúvida de que esse anúncio reflete uma crise socioeconômica e as desigualdades sociais e regionais, pois nas zonas periféricas e rurais esse índice é mais crescente.

     A gravidade dessa constatação exige das autoridades medidas urgentes para enfrentar e resolver o problema. Não medidas retóricas, mas efetivas. Vejo esse quadro como alarmante pela repercussão que afeta o índice de criminalidade, assim como a situação das famílias e no próprio desenvolvimento do país, pois se trata de uma força inativa à espera de uma oportunidade de trabalho. Instala-se um círculo vicioso: sem experiência profissional, sem formação acadêmica, será mais difícil ser absorvido pelo mercado de trabalho.

     Imagine-se um jovem com 19 anos, vivendo num vácuo existencial, sem ânimo e sem oportunidade para estudar, sem encontrar trabalho para afirmar sua dignidade e atender suas necessidades. À sua frente, abrem-se as portas das organizações criminosas para recebê-lo. Terá ele força moral suficiente para recusar esse convite? O desemparo em que vivem torna-os vulneráveis a ponto de, nas zonas rurais, sujeitarem-se ao trabalho escravo.

     A jornada desses jovens está cheia de obstáculos invisíveis para os que não vivenciam essa situação. Muitos ainda são acolhidos com olhares desconfiados ou afastados como vagabundos.

     Outro refúgio ou sublimação a que recorrem os membros da geração nem-nem é o vasto mundo virtual, onde estarão sujeitos a serem cooptados para a prática de ações radicais, aventuras sexuais e até o suicídio programado.

     A crônica desses jovens é um relato lamentável que desafia a sociedade a encarar esse desafio, para além de medidas individuais. O cenáculo é de extrema exclusão social, de jovens esperando a possibilidade de ter seus potenciais aprimorados ou absorvidos pelo círculo social.

     Para uma resposta efetiva a esses jovens seria preciso que houvesse uma convocação social de todos os mecanismos sociais, privados e órgãos do governo, para oferecerem ferramentais de capacitação profissional a fim de tirá-los desse ciclo de exclusão. Tudo que fosse possível para que eles se apoderarem de suas juventudes e cada um pudesse dizer como o poeta: “sou o mestre do meu destino”.

Por: Lourival Serejo



Lourival Serejo

     Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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