1 A saída de Caxias e a formação acadêmica de Gonçalves Dias
Depois da primeira saída de Caxias, em 1837, frustrada pela morte do seu pai, João Manuel, Gonçalves Dias sai definitivamente da sua cidade natal em 13 maio de 1838.
Essa viagem para Coimbra deveu-se à disposição da senhora Adelaide, viúva do falecido João Manuel, e por iniciativa das autoridades e professores de Caxias, que, desde cedo, perceberam o brilhantismo da inteligência daquele menino prodigioso.
Sobre essa partida de Caxias, assim expressou-se o poeta, neste poema:
Parti, dizendo adeus à minha infância,
Aos sítios que eu amei, aos rostos caros,
Que eu já no berço conheci – àqueles
De quem malgrado a ausência, o tempo, a morte
E a incerteza cruel do meu destino,
Não me posso lembrar sem ter saudades,
Sem que aos meus olhos lágrimas despontem.
2 A volta ao Maranhão
Gonçalves Dias volta ao Maranhão em 1845, depois de passar oito anos em Coimbra, onde concluiu seu bacharelado em Direito e consolidou sua vasta cultura humanista, inclusive com o domínio do inglês, do alemão, do francês, do italiano, do espanhol e do latim.
Ao chegar em São Luís, sem perspectiva de trabalho, viaja para Caxias para rever sua mãe, amigos e irmãos.
Em janeiro de 1946, volta de Caxias e parte para o Rio de Janeiro. Ali, até 1851, viveria o período mais elevado de sua produção poética.
3 O exercício da advocacia
Foi nesse período passado em Caxias que Gonçalves Dias envolveu-se em atividades políticas paroquianas e exercitou a advocacia, com o propósito evidente de ter algum retorno econômico que atendesse a suas necessidades.
Sobre essa disposição em atirar-se à advocacia como meio de garantir sua subsistência, Lúcia Miguel Pereira, em sua biografia sobre o poeta, traz oportunas informações. Diz ela:
Preocupava-o, todavia, a sua situação; na mesma carta pedia ao amigo que lhe comprasse livros e lhe mandasse buscar, com urgência, o diploma em Portugal, tendo-lhe enviado, para isso, cento e cinquenta mil réis por um portador. Pensaria em advogar em Caxias? Em fixar-se na cidade onde se sentia estrangeiro e hostilizado? Logo se devem ter alvoroçado os concorrentes, os rábulas, os inimigos políticos, já que Gonçalves Dias se unira ao grupo do Brado de Caxias.[1].
Segue a autora informando que o juiz da Comarca, Dr. Gregório de Tavares Osório Maciel da Costa, aliado ao partido político contrário ao que Gonçalves Dias abraçara, começou a criar-lhe dificuldades, exigindo seu diploma, imputando-lhe a condição de impostor, alegando que não concluíra o curso e que só possuía o título de bacharel.
Mais adiante, esclarece Lúcia Miguel Pereira:
Pensando na advocacia como meio de subsistência, tratou o jovem de se prover de livros; pediu a Teófilo que lhe comprasse a Lei da Guarda Nacional, o Regulamento das Câmaras, o Advogado do Povo, o Manual do Tabelião, Os Libelos de Correia Teles, o Manual Prático de Gomes, um Dicionário Comercial Português, o Traité des Nullités des Conventions en Matière Civile, o Traité des Minorités – Tutelles et Curatelles.[2]
E mais não disse a biógrafa sobre a tentativa de Gonçalves Dias de exercer a advocacia em Caxias. Em outras biografias também nada informam.
Entretanto, em pesquisa inédita, realizada nos arquivos do Tribunal de Justiça do Maranhão, depois de minuciosa busca, foram encontrados três processos em que se constatam a atuação de Gonçalves Dias na condição de advogado. Foram eles:
a) Inventário de Francisco Manoel Pereira Basto, falecido em Portugal, deixando viúva e filhos em Caxias.
Gonçalves Dias foi nomeado Curador dos órfãos Eloia Pereira Basto, Dona Victoria Pereira Basto e Cleia Pereira Basto;
b) Inventário de Joaquim Marques da Costa Fortuna.
Gonçalves Dias atuou como Curador dos Ausentes, tendo prestado juramento em 5.12.1845;
c) Liquidação de sociedade (16.11.1845).
Requerente: Thereza Maria Basto e suas filhas Eloia Pereira Basto e Victoria Pereira Basto
Sócio: João Antônio de Mello Basto.
4 Definição de rumo
A experiência inexitosa de Gonçalves Dias como advogado, em Caxias, e somente ali, serviu para ele desiludir-se de abraçar a profissão com exclusividade. Deixou-se, então, o poeta ser levado para os mares da sua verdadeira vocação: a poesia.
Não restou outra opção a Gonçalves Dias senão ingressar na máquina pública, a exemplo dos seus companheiros do romantismo: Gonçalves de Magalhães, Araújo Porto Alegre, Joaquim Manuel de Macedo, Joaquim Norberto e Manuel Antônio de Almeida.
Apesar dessa definição de rumo, comprova-se que Gonçalves Dias, no breve período de advocacia, preocupou-se em não ser um inexperiente rábula, pois buscou munir-se de vários livros para embasar seus conhecimentos jurídicos, uma comprovação inequívoca de sua ânsia em ser uma pessoa que zelava por sua integridade com a consciência de que deveria – antecedendo o conselho que, mais tarde, daria Fernando Pessoa – ser o que era no mínimo que fazia.
Referências
[1] PEREIRA, Lúcia Miguel. A vida de Gonçalves Dias. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2016, p.86.
Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
Saiba mais