No meio de tantas alegrias, apreensões, disputas, exibições dentro e fora de campo, no meio de tantas coisas belas desta Copa, eis que surgiu uma dentada para surpreender. Para tentar qualificá-la, já foram gastos inúmeros adjetivos, mas o fato foi de tamanha perplexidade que deixou todos de boca aberta.
O ataque ocorreu durante o jogo do Uruguai com a Itália. Luís Suárez, o melhor jogador da seleção uruguaia, atira-se sobre Chiellini, jogador italiano, e morde-o no ombro. Caem os dois, e a vítima, ao se levantar, sai correndo, exibindo o hematoma em seu ombro com as marcas dos dentes ferinos.
Depois, veio a exagerada punição da Fifa e Suárez foi para casa, onde a pátria o acolheu com carinho e tolerância.
A princípio, poderíamos supor que todo o prestígio conquistado em muitos anos de esforço contínuo teria sido jogado por terra com o incompreensível gesto da dentada. Mas não ocorreu isso, os torcedores uruguaios, pelo que se viu e ouviu, perdoaram Suárez. Em casa, ele foi recebido como herói injustiçado. A própria vítima acatou suas desculpas.
A bizarrice desse acontecimento desencavou da nossa memória a cabeçada do francês Zidane no peito de Materazzi, também um jogador italiano, no Mundial de 2006. Recentemente, um escultor achou por bem eternizar o gesto de Zidane numa estátua de bronze de cinco metros de altura.
A atitude de Suárez provocou as mais diversas opiniões e foi um prato cheio para psiquiatras e psicanalistas tentarem encontrar uma resposta científica para o gesto do jogador. Seria alguma fixação da infância? Alguma fase do seu crescimento que ficou traumatizada por qualquer carência?
Se eu estivesse ainda – mesmo com muito atraso – falando da cabeçada de Zidane, diria que todos nós também damos cabeçadas na vida, de um jeito ou de outro, em situações diversas. Mas, uma dentada é diferente. Só em briga de mulher é que se vê com mais frequência o recurso a esse estratagema de agressão ou defesa. Talvez a explicação esteja no que se diz sobre o futebol: é um esporte que desloca a inteligência para os pés. Num momento de alta pressão, os jogadores quase sempre não se controlam e cometem certos deslizes, por mais inusitados que pareçam.
Uma mordida poderia ser simplesmente uma mordida se não fosse o momento em que ela foi aplicada e contra quem. Então, a gente chega naquela conhecida lição de jornalismo de Charles Anderson Dana: “Quando um cachorro morde uma pessoa, isto não é notícia, mas quando uma pessoa morde um cachorro, isto é notícia.” E, quando essa mordida é aplicada numa partida de futebol, caracteriza-se uma infração disciplinar que leva a outras consequências.
A violência expressa-se sob diversas formas, em crescente escala de exacerbação. Até numa partida da Copa do Mundo ela se manifesta, diante dos olhares de todos os países, provocando repúdio e fazendo vítimas. Está aí o Neymar sofrendo as agruras dos extremos de uma jogada infeliz.
Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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