Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Mateus, 22, 39.
A Revolução Francesa de 1789 desencadeou-se sob três divisas: liberté, egalité, fraternité (liberdade, igualdade, fraternidade). Dessas três, as duas primeiras afirmaram-se como as mais debatidas, estudadas e mais aplicadas. Milhares e milhares de livros foram escritos para avaliarem a extensão do conceito de liberdade e de igualdade. As constituições de todos os países – inclusive os totalitários – abrigaram esses princípios como sustentáculos do Estado.
E a fraternidade? Talvez pela sua conotação cristã perante os reveses do próximo, tornou-se um princípio esquecido. A nossa Constituição, timidamente, refere-se, no Preâmbulo, a “uma sociedade fraterna” como um dos objetivos da República.
Para analisar esse fenômeno, o professor e filósofo italiano, Antonio Maria Baggio coordenou a publicação de uma obra, em dois volumes, com este título: “O princípio esquecido”, a qual foi publicada no Brasil, em 2008, com o selo da Editora Cidade Nova. Como diz o subtítulo, a obra trata da fraternidade na reflexão atual das ciências políticas.
Pretendem os autores demonstrar que a fraternidade tem um alcance mais amplo do que a motivação religiosa, o qual passa pela política internacional favorecendo a construção de uma comunidade coesa, pelos direitos humanos e pela comunicação responsável. É, portanto, uma categoria ética, religiosa e politicamente prática.
Daniela Rupelato, entre os autores, explica bem essa abrangência ao dizer que “a fraternidade é capaz de expressar realmente o coração da democracia, ou seja, ampliar sua capacidade de harmonizar o que é autenticamente humano dentro das formas normativas necessárias à organização de uma convivência dos homens e dos povos”.
Outro articulista do livro reconhece que a fraternidade é o princípio que custa mais porque temos de reconhecer no outro uma pessoa que deve ter a nossa mesma dignidade.
Nessa ideia de encontro e respeito para com o outro desponta a atitude de reciprocidade, de alteridade, de ética.
O esquecimento da fraternidade levou a humanidade ao estado de indiferença em que se encontra. Os pontos de guerra fratricida, na África, na Síria, no Egito e muitos outros países têm sua origem no desconhecimento do poder desse sentimento, capaz de assegurar a tolerância e a convivência com o outro.
O individualismo da sociedade pós-moderna afugentou ainda mais a fraternidade do agir cotidiano das pessoas. No trabalho, a competição desenfreada contamina o convívio saudável com o colega ao lado, despertando o egoísmo ambicioso de querer sempre superar alguém.
Depois de Gandhi e Luther King, a humanidade perdeu agora outro apóstolo da fraternidade: Nelson Mandela. Sem a sua intervenção, a África do Sul seria consumida por uma guerra fratricida imprevisível, com milhares de mortos.
Para o começo de cada ano, vale alertar para a importância da fraternidade no fortalecimento das relações humanas, da inclusão social, da democracia e da paz.
Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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