Ter ou não ter filhos

     A revista Veja, em edição recente, tratou, com chamada de capa, dessa matéria, exibindo uma executiva que renunciara a ter filhos em prol de sua carreira e suas ambições.

O      índice de casais sem filhos torna-se cada vez mais elevado, em todos os países. A correria do mundo moderno é um entrave que dificulta a disponibilidade da mulher para cuidar de filhos. E o querer ser mais e ter mais incentiva esse posicionamento. (Ressalvo duas exceções notáveis: Gisele Bündchen, que suspendeu seus desfiles para ter dois filhos, com Tom Brady; e Angelina Jolie, com Brad Pitt, que têm três filhos biológicos e três adotivos).

     A competição nas grandes empresas suscita o sentimento de plenitude para aquelas que atingem um ponto elevado na carreira, cobiçado por suas amigas e amigos. Só existe para elas o presente. Se algum pretendente quiser casar/morar com uma delas, tem que se submeter a esta condição: sem filhos.

     Ao ler essa reportagem da revista Veja vieram-me à lembrança alguns fatos.

     Lembrei-me de minha mãe que teve nove filhos (sua mãe, minha avó, pariu 21) e,quando estava na iminência da morte, em breve momento de lucidez, sentou-se na rede, olhou em volta e disse: É bom ter muitos filhos.

     Recentemente, foi entrevistado por Marília Grabriela um ginecologista famoso que afirmou: biologicamente, a mulher foi feita para procriar. Cada menstruação é um protesto do útero que não engravidou. Para o desenvolvimento sadio da mulher, ela precisa engravidar.

     Evidente que raríssimas pessoas vão concordar com o vaticínio desse médico, diante de tantas circunstâncias negativas e ansiosas que cercam a maternidade hoje em dia.

     Pelos exemplos de vida que tenho testemunhado, considero temerária a decisão das executivas ouvidas pela citada revista ao analisá-la da perspectiva da velhice, quando idade começa a rimar com enfermidade.

     Para certas doenças, nem irmão nem sobrinho nem cuidadora, terão paciência de confortar uma pessoa idosa, em estado de debilidade física e mental. Em muitos países, esse problema é resolvido com a internação em asilos ou casas de repouso.

     O casal sem filho vive plenamente o casamento como ato de entrega recíproca, até envelhecerem, quando, então, é imprevisível o fim de cada um. O filme O amor, recentemente exibido nos cinemas do país, mostra de forma dramática o dilema de um marido, idoso, diante da mulher sem memória. Mesmo com uma filha única, esta não morava com eles. Para o marido ficou o encargo de encontrar a solução trágica para o problema.

     Além das dificuldades apresentadas hoje para a mulher tornar-se mãe, outro problema se levanta no atual estágio de violência da sociedade, principalmente entre casais de baixa renda. É um novo e brutal desfecho que, de tão repetido, nos últimos tempos, já se tornou corriqueiro: o filho pode ser o futuro assassino da mãe ou do pai, se ele se tornar um viciado em drogas. Os jornais estão noticiando quase toda semana o assassinato de uma mãe ou de um pai pelo filho viciado. Outro caso freqüente é quando os pais se opõem ao namoro da filha. Antes, o parricídio inspirava um romance. Hoje, não; tornou-se até vulgar essa tragédia familiar.

     As opiniões a respeito dessa alteração dos costumes devem ser relativas. Não se pode generalizar. Cada um deve buscar a resposta adequada para não se arrepender depois. A busca da felicidade é a maior preocupação de todos. Muitos dirão, com apoio em fatos, que conhecem filhos que abandonam os pais à própria sorte, geralmente desfavorável. Às vezes, filhas únicas deixam as mães morrerem abandonadas, sem qualquer remorso. Conheço um caso de uma filha única que foi para a Europa e não teve ânimo para vir assistir a mãe doente, que passou mais de um ano na UTI de um dos nossos hospitais, sozinha, à espera das esporádicas visitas de parentes distantes.

     Para concluir, deixando ao leitor a opção que achar mais adequada ao seu caso pessoal, posso afirmar que se não tivesse tido filhos seria menos feliz. E os netos? Ah, essa é uma dimensão tão grande que é melhor nem falar.

 

Por: Lourival Serejo

Publicada no jornal O Estado do Maranhão, em 16.6.2013



Lourival Serejo

     Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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