Por: Lourival Serejo
Finalmente, o mundo vai se acabar. Depois de tantos debates, dúvidas e profecias, está definido o próximo dia 21, sexta-feira, para o mundo acabar. A profecia é dos Maias, povo que viveu em parte da América Central e na península de Yucatán, no México.
Colhi na Barsa (hoje ninguém procura mais essa Enciclopédia, só o Google) que a civilização maia ocupou a América Central por mais de vinte séculos, atingindo um grau notável de evolução no conhecimento da matemática e da astronomia, inclusive tinham um calendário próprio. É justamente esse calendário que se encerra bruscamente no dia 21 de dezembro de 2012, marcando o fim dos tempos.
Ainda sobre os Maias, é importante dizer que a organização social e política daquele povo era exemplar. Tínhamos muito mais a aprender com eles, se não fosse o vandalismo dos espanhóis ao queimarem seus livros e manuscritos.
O filme “2012” já explorou essa profecia, trazendo alucinantes passagens que mostraram o desenlace dessa tragédia escatológica, tornada mais aterrorizante pelos efeitos especiais utilizados.
Esse pesadelo de o mundo se acabar em fogo, como diziam, atormentou minha infância, em sonhos, conversas cortadas dos adultos, leituras dos segredos de Fátima e tantas notícias que se espalhavam nas salas de aula.
Imagino como seriam nossos últimos dias diante da certeza do fim do mundo. Lembrando a postura de Ivan Karamazov, diríamos: se o mundo vai acabar, tudo é permitido.
Americanos paranoicos já estão fazendo reservas em abrigos, acumulando suprimentos de todos os tipos para esperar e sobreviver à catástrofe. No México, terra da profecia maia, já estão vendendo kits para o fim do mundo. Outros países já estão imitando. O que conteria um kit brasileiro? Cachaça, feijão e um pandeiro, com certeza não faltariam. Meu amigo Aureliano terá dificuldades para acomodar todos os seus livros em volta de si. Do mesmo modo, Jomar Moraes com sua vasta biblioteca.
Por muitas vezes, já ouvimos contar a história daquela escrava que saiu para comprar ovos para a patroa, no dia 13 de maio de 1888, e na volta, soube que a escravidão havia acabado. Enfurecida, jogou a cesta no chão e aliou-se aos seus irmãos para cantar e dançar. Não seria uma reação idêntica que as pessoas teriam nas ruas ao comemorar o fim do mundo? Muitos tirariam as roupas, gritariam, chorariam, beberiam até cair. Jogariam no chão o peso das cestas de frustrações acumuladas pela vida toda. Adúlteros e adúlteras confessariam suas aventuras; haveria reconciliações e ranger de dentes; criminosos confessariam seus crimes; maridos repudiariam esposas; outros se reconciliariam e pediriam perdão. Tudo seria possível acontecer, tanto do bem como do mal.
O surpreendente, o extraordinário e o absurdo se cruzariam.
Muitos enrustidos sairiam do armário e não teriam medo nem vergonha de viverem felizes esses últimos dias de suas vidas. Nos grupos sociais, clubes, confrarias, tribunais, empresas, as pessoas se voltariam para seus colegas, ao lado, e diriam a verdade: eu nunca te suportei. Ou então: eu sempre te amei e nunca tive coragem de te dizer.
Os males secretos, tão bem cantados por Raimundo Correa, em seu famoso soneto, seriam todos expostos e as “máscaras da face” cairiam perante todos, estampando “tudo o que devora o coração”.
E os usurários, especialistas na exploração dos outros, com seus dinheiros acumulados (reais, dólares, euros)? Guardariam em algum depósito, como aquele americano maluco que fez de cofre os sofás e os colchões de sua casa. O que fariam com esse dinheiro todo, depois que tudo acabasse?
Para quem acredita ou está com uma ponta de dúvida é melhor pegar a Bíblia, esquecida na estante, e começar a ler o Apocalipse, para não se surpreender com os toques das trombetas, o levantar de fumaça vermelha brotando das fornalhas abertas na terra e os dragões, muitos dragões, e a besta de sete cabeças com dez chifres, e todas aquelas personagens e fenômenos, ali descritos, que ressurgirão para devorarem os pecadores.
Da minha parte, para que não me pegue de surpresa, próximo à meia-noite do dia vinte, já estarei de alerta. Por fas ou por nefas, não se deve duvidar dessas coisas. Enquanto a hecatombe final não vem, ficarei ouvindo um tango argentino.
Publicada no jornal O Estado do Maranhão, em 16.12.2012.
Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
Saiba mais