Ao ouvir a notícia, pelo Jornal Nacional, sobre a descoberta da Partícula de Deus, e ver a euforia dos cientistas, lembrei-me imediatamente de Teilhard de Chardin.
Segundo foi propalado, a Partícula de Deus, ou Bóson de Higgs, é a chave para explicar a origem da massa das outras partículas elementares, conforme explica a Wikipédia. A importância da descoberta foi comparada com a Teoria da Relatividade, de Einstein.
Pierre Teilhard de Chardin (1881-19955), hoje esquecido, foi um padre jesuíta francês que se dedicou ao estudo da Filosofia, da Geologia e da Paleontologia. Era um cientista que pretendeu unir a ciência com a Teologia e buscar, assim, na origem do universo, a presença de Deus. Para ele, existia uma força que age a partir de dentro da matéria, que orienta a evolução a um ponto de convergência – o Ponto Ômega. As partículas atômicas foram objeto do seu estudo sobre a evolução da vida no espaço e no tempo. Era considerado como apóstolo do cristianismo cósmico.
Pela sua ousadia, foi punido pela Igreja e passou muito tempo na China, em ostracismo. Mas ali não parou suas pesquisas e continuou escrevendo trabalhos científicos para revistas de todo o mundo.
A obra mais famosa de Teilhard de Chardin é “O fenômeno humano”, que teve duas edições no Brasil, sendo a última pela editora Cultrix, com tradução e notas de José Luiz Archanjo. Esse livro veio-me às mãos por indicação do padre Eider, lá em Viana, ainda empolgado com a leitura que acabara de fazer.
Ler “O fenômeno humano” exigiu-me muita atenção e tempo, pela sua complexidade e excesso de termos científicos. Porém, como o tinha como daqueles livros de leitura obrigatória, fui até ao fim, sendo muito bem recompensado.
É muito comum o leitor deparar-se com esses livros e não ter coragem de enfrentá-los, pelo número de páginas e a escassez de tempo em que vivemos. Três grandes livros de fama internacional entram nesse rol: “Ulisses”, de James Joyce, “O homem sem qualidades”, de Robert Musil e “Guerra e Paz”, de Tolstoi. Mais recentemente, pode-se acrescentar o volumoso “2666”, do escritor chileno Roberto Bolaño. A diferença entre “O fenômeno humano” e esses livros é que não se trata de uma obra extensa, mas profunda, que requer muitas paradas e reflexões.
Se estivesse vivo, Teilhard estaria comemorando a descoberta dessa partícula como uma vitória da sua preocupação em mostrar a evolução do universo, movido pelo choque de forças e organismos, até a tomada de consciência, quando, então, surgiu o fenômeno humano.
A origem da massa, como propriedade da matéria, é um enigma que os cientistas são sabiam explicar. Daí a importância da descoberta que a imprensa acaba de anunciar.
O bispo dom Marcelo Sorando, teólogo do Vaticano, comentou o anúncio da partícula como prova da existência de Deus. “Se ela está aí, disse o bispo, é porque alguém a colocou. O cientista simplesmente diz que ele descobriu, o crente vê o fruto da vontade de Deus”.
Há uma fatia nessa vitória que pertence a Teilhard de Chardin, pelo entusiasmo com que se dedicou ao estudo da evolução da matéria, do átomo e da força cósmica, até a socialização, a amorização, em cujo período o homem encontrará o prazer da vida. Para se agrupar “centricamente”, diz Teilhard de Chardin, ao falar sobre o Deus transcendente, as partículas humanas devem finalmente se amar (todas ao mesmo tempo e todas juntas).
Regozijo-me pelo jesuíta francês, apóstolo e profeta, modelo de sacerdote para os novos tempos em que a Igreja não pode negar a existência de um mundo novo, que deve caminhar de par com os progressos da ciência, que se expande em todos os sentidos.
Por: Lourival Serejo
Publicada no jornal O Progresso, de Imperatriz, em 21.10.2012.
Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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