Por: Lourival Serejo
De vez em quando, sou levado a concordar com o primo Ubaldo, quando diz que este mundo está ficando louco.
Vejam o que está acontecendo no Rio Grande do Sul.
Uma ONG representou ao Conselho de Magistratura daquele estado para que fossem retirados todos os crucifixos dos fóruns e das salas de audiências, sob o argumento de que o Estado brasileiro é laico e não admite exibição de preferências religiosas em prédios públicos.
Em decisão do dia 6 de março passado, referido Conselho acatou o pedido e determinou a retirada dos crucifixos.
Lembrei-me de que passei minha caminhada por quatro entrâncias da nossa magistratura com o mesmo crucifixo, sobre minha cabeça, afixado na sala de audiências ou na parede, atrás da minha mesa de trabalho. Ali, firme, de braços abertos, esse símbolo da fé cristã me acompanhou em todos os momentos, inspirando-me a ter forças para superar as dificuldades e procurar a decisão mais justa para cada lide sob meu julgamento.
Confirma-se na Wilkipédia aquilo que já sabemos: o crucifixo é um símbolo de veneração que foi adotado pelos cristãos depois da crucificação de Cristo. Antes, era somente a cruz e o peixe que simbolizavam o Cristianismo.
Tomei conhecimento de que, na Itália, precisamente na cidade de Áquila, foi punido com prisão e afastamento do cargo um juiz que determinou a retirada de um crucifixo da sala de audiências. No Brasil, já tivemos alguns casos isolados de alguns juízes que tomaram essa iniciativa.
Lembrei-me, também, de que, lá em Viana, em nossa casa, tínhamos um Jesus Cristo entronizado. Era uma prática, nas famílias católicas, fazer esse processo de entronização, que consistia em colocar um quadro grande, com a imagem de Cristo segurando um globo terrestre, num local bem visível da casa. Havia um ritual para fazer a entronização e respeitar as regras daí decorrentes: a casa estava comprometida com o Credo da Igreja romana. Esse compromisso com o sagrado era adquirido desde cedo, nas aulas de catecismo: És cristão? Sim, sou cristão pela graça de Deus.
No meu gabinete, no Tribunal de Justiça, logo apressei-me em colocar um crucifixo bem destacado, sobre um fundo escuro. Não poderia ser outra minha atitude. Para quem viveu num lar em que Cristo tinha um trono, mantê-lo ao meu lado é uma coerência de fé.
A simbologia de um crucifixo, a meu ver, ultrapassa o lado religioso para representar também uma chamada ética. Cristo representa a ética da solidariedade, da piedade, da fraternidade e do olhar para o outro. Toda a ética moderna da preocupação com o outro cabe na máxima do Evangelho: Amai-vos uns aos outros.
Com essa mensagem ética, captada até por alguns ateus inteligentes, a presença de um crucifixo desperta a atenção para o bem comum, tão vilipendiado pela ganância dos poderes político e econômico. Trata-se de uma prática secular da nossa cultura que expressa os valores da sociedade, implantados pelos descobridores portugueses desde a primeira missa celebrada por frei Henrique de Coimbra.
Existem tantas outras coisas imperfeitas no Judiciário que poderiam ser objeto de uma ação daquela ONG, as quais deixam muito aquém o debate sobre a constitucionalidade de ter ou não um crucifixo nos locais públicos.
Com certeza, essa discussão vai chegar ao Supremo, e Cristo será novamente julgado pelos homens. Nesse dia, não faltará um jornal para estampar uma manchete bem chamativa, qualquer coisa como “O Supremo julga o Filho do Supremo”. Uma turba agitada de fundamentalistas ficará defronte da Corte Maior da Justiça brasileira, com cartazes e um coro já conhecido de todos: Fora, Cristo! Tirem os crucifixos! Liberdade religiosa!
Para os incentivadores desse debate e os autores do pedido de retirada dos crucifixos, recomendo, neste tempo de quaresma, fazermos esta breve oração: Perdoai-lhes, Senhor, eles não têm o que fazer.
(Publicada no Estado do Maranhão, em 1º de abril de 2012).
Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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