Em cumprimento a um programa editoral que já se estende por muitos anos, a editora Nova Aguillar lançou, em 2005, a ficção completa de Aluísio Azevedo, em dois volumes. Essa antologia foi revisada e organizada pela professora Orna Messer Levir e baseou-se em manuscritos da Casa de Rui Barbosa e da Academia Brasileira de Letras. Foi uma iniciativa festejada pelos estudiosos de literatura e uma homenagem ao mestre maranhense da ficção.
Existem escritores que enterram sua glória junto consigo mesmo. Depois de poucos anos de falecidos, não se ouve mais falar deles nem de seus livros, que não são mais reeditados. As gerações que se sucedem já nãoF falam mais deles. Temos exemplos a granel sobre esse fenômeno do esquecimento.
No Maranhão, de tantos nomes que se podem elencar nessa situação, destaco apenas dois escritores que foram famosos enquanto estavam vivos e, até certo tempo depois, e hoje vão se tornando desconhecidos, pois nem se reeditam mais seus livros, estes encontrados apenas em sebos. São eles Coelho Neto e Humberto de Campos.
Pesa-me colocar aqui o nome de Humberto de Campos, a quem admiro e leio constantemente seus livros.
Quanto a Aluísio Azevedo, que faleceu em 1913, não ocorreu esse esquecimento melancólico. O prestígio e o reconhecimento da obra desse escritor maranhense mantêm-se atual, provocando estudos e debates, em academias e universidades. Basta consultarmos a internet para termos a dimensão dessa verdade.
Qualquer coleção de literatura brasileira lançada até hoje conta com um ou mais títulos de Aluísio Azevedo. A Universidade Federal de Minas Gerais, em 2003, reeditou sua obra O Homem e adotou-o em seu vestibular. No posfácio dessa edição, a professora mineira Letícia Malard, depois de rebater os críticos que consideraram O Homem como uma obra de poucos méritos, diz claramente: “Aliás, e devido sobretudo a preconceitos religiosos e sexuais, outros tantos romances brasileiros do período foram e ainda costumam ser discriminados pela crítica e pela historiografia literárias. É gratificante ver hoje a recuperação da importância de um deles para a literatura brasileira.”
Para os estudiosos do Direito de Família, o Livro de uma Sogra traz elementos interdisciplinares que corroboram qualquer pesquisa em matéria de relações familiares. Este livro tem mais de um século de seu lançamento e, como todos os outros de Aluísio Azevedo, continua sendo reeditado e vendido para o grande leitor brasileiro, mesmo sendo considerada uma obra de segunda categoria no contexto das suas obras de ficção.
As obras de Aluísio Azevedo já foram traduzidas em várias línguas (alemão, inglês, francês, espanhol etc). No ano 2000, a Oxford University Press (EUA) publicou O Cortiço, que recebeu o título The Slum, com a tradução a cargo de David Rosenthal.
Do mesmo modo, O Mulato foi traduzido nos Estados Unidos, com o título The Mulatto. Pode parecer uma atividade comum e nada excepcional essas traduções. Mas o que se destaca como inusitado é tratar-se de obras com mais de um século de seus lançamentos e de um autor sul-americano. Só o gênio Machado de Assis, contemporâneo de Aluísio, tem esse prestígio que cada vez mais é renovado e imbatível.
Com tantos títulos novos, tantos autores surgidos a partir de 1900, uma editora estrangeira ainda se interessar em publicar uma obra brasileira, com mais de um século do lançamento, significa que o valor dessa obra continua atual e a genialidade do seu autor ainda é reconhecida.
Sobre essa atualidade de Aluísio Azevedo vale registrar que, na introdução que antecede à citada edição da Editora Nova Aguillar, refere-se ao autor maranhense como um escritor que “permanece nas páginas de nossa historiografia literária como estrela de primeira grandeza, ao lado de outros festejados imortais da Academia Brasileira de Letras.”
Para o Maranhão, que não deu ao autor enquanto vivo (e pouco, depois de falecido) o reconhecimento que merecia, a permanente atualização da obra de Aluísio Azevedo desponta como motivo de orgulho e saudades do tempo em que São Luís se imaginava a Atenas Brasileira.
Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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