DESAFIOS DO ENVELHECIMENTO NO BRASIL

O senhor Manoel lembrou à sua mulher que o mês de dezembro já entrou e que ele precisa da sua roupa de papai Noel lavada e engomada, pois a qualquer momento pode ser chamado para trabalhar.

O senhor Manoel é um idoso de 70 anos e há três anos é contratado no mês de dezembro para representar papai Noel numa loja de brinquedos.

Os idosos brasileiros conseguiram a primeira vitória pelo reconhecimento dos seus direitos com a promulgação da atual Constituição, em 1988. Depois, veio o Estatuto do Idoso para assegurar a eficácia dessas prerrogativas constitucionais.

Atualmente, temos uma delegacia e uma unidade judicial especializadas em atendimento aos idosos, assegurando-lhes proteção contra as múltiplas violências de que são vítimas diariamente.

Até aqui, tudo bem. Não há dúvida de que houve notável avanço nessa área.

Ocorre que as evidências e os fatos reclamam atuação mais eficiente dos poderes públicos para prevenir e proteger os idosos. Tudo porque a violência contra eles continua aumentando. São violências físicas e morais, que vão dos maus-tratos domésticos à exploração dos bancos na forma de consignados abusivos. Ainda há as violências quase invisíveis que não aparecem nas estatísticas nem são denunciadas.

Nesse cenário, merece louvor a escolha feita pelo último ENEM do tema Perspectivas do envelhecimento na sociedade brasileira para a redação. Esse assunto serviu para conectar os jovens com um capítulo submerso e desconhecido dessa faixa etária.

A situação dos idosos requer ações mais atuantes para superar o desamparo e a falta de cuidados em que a maioria dos idosos vive no Brasil contemporâneo. Precisamos de políticas públicas voltadas para investir em redes integradas de atenção à saúde, transportes adequados, programas de convivência e combate à solidão, à depressão e às doenças crônicas.

Alguém lembra se na última campanha política, algum candidato colocou os idosos em seu programa de governo?

Agora, em dezembro, algumas casas comerciais costumam lembrar dos idosos para vestirem-se de papai Noel. É o caso do senhor Manoel. Uns vão por divertimento, outros por força da necessidade. A terceira hipótese, é o idoso saudável que deseja trabalhar para afugentar as doenças e encontra o mercado de trabalho fechado por preconceito etário.

Após a aposentadoria, muitos ficam sem rumo, sem orientação, e acabam encalhando nas redes, nas camas ou nos sofás, diante da televisão o dia inteiro. O resultado é a chegada das doenças, inclusive das doenças mentais.

A situação exige campanhas de esclarecimentos à sociedade com informações e alertas sobre a problemática da violência contra idosos. Há um sentimento de abandono que deve ser enfrentado com mais energia. A previsão é que, em 2050, teremos 66 milhões de idosos no Brasil. Logo, impõe-se uma política de prevenção mais urgente. Por fim, é conveniente lembrar que o grau de civilização de uma sociedade mede-se pelo nível de atenção aos seus idosos. É o que desejamos para o Brasil.