GUERRA DO VIETNÃ: 50 ANOS DEPOIS

Esta é a terceira vez que me manifesto sobre a Guerra do Vietnã. A primeira foi no aniversário de 20 anos do fim do conflito; a segunda, no aniversário de 40 anos. E agora, aos 50 anos. A guerra acabou em abril de 1975, quando o último helicóptero partiu do telhado da embaixada americana, em Saigon.

Por que o Vietnã me toca tanto?

É que a minha geração acompanhou aquela Guerra com muita atenção, naturalmente torcendo contra os Estados Unidos, que tínhamos como os invasores. Ainda tenho na mente as manchetes dos jornais locais e nacionais anunciando o fim da guerra. Pela manhã do dia 30 de abril O Imparcial estampava a chamada: “Vermelhos assumem o poder em Saigon”. Pela tarde, ao passar peça praça João Lisboa, depois da cinco horas (quando chegavam os jornais de fora), estavam lá, nas bancas, o Estado de São Paulo, com a manchete: “Saigon rende-se; termina a guerra”. Por sua vez, O Globo estampava: “Saigon se rende sem condições”.

Talvez tenha sido a guerra que mais motivou o aparecimento de filmes. Tenho mais de vinte filmes, com destaque para Platoon e Apocalypse Now. Nesses filmes pode-se avaliar a violência da guerra e o sacrifício de jovens de 18 a 20 anos morrendo pela obsessão política dos governantes americanos.

Acredito que a Guerra do Vietnã foi a maior derrota que os americanos já sofreram até hoje. Foi uma derrota que veio em doses alternadas, sendo a mais forte e humilhante a Ofensiva do Tet, em 31 de dezembro de 1968, na qual morreram mais de mil americanos. Todos os esforços e gastos dos Estados Unidos foram em vão. Não só dos Estados Unidos, mas de outros seis países: Nova Zelândia, Austrália, Coreia do Sul, Tailândia e Filipinas. Nos três anos iniciais, os bombardeiros B-52 despejaram 800 toneladas de bombas diariamente, o governo americano gastou trilhões de dólares, por 10 anos, e não conseguiu vencer os combatentes vietnamitas do Norte e os vietcongues. O poderio bélico americano sucumbiu às estratégias milenares dos asiáticos. A capilaridade dos quilômetros e quilômetros de túneis deixou atordoado o exército dos invasores.

A divulgação imediata das imagens da guerra contribuiu para seu final e para a derrota americana. Ninguém esquece a imagem daquela garotinha nua correndo na estrada toda queimada após um bombardeio com nepalm, assim como ninguém esquece o massacre de My Lai.

No meio de todo aquele cotidiano de combates, surgiram as figuras de Ho Chi Min e o general Nguyen Giap, os quais demonstraram elevada capacidade de estrategistas e tornaram-se mitos na luta pela autodeterminação do Vietnã. Do lado americano, destacaram-se Henry Kissinger e MacNamara, na diplomacia, e o general William Westmoreland, nos combates.

Durante a visita de um membro da embaixada vietnamita a São Luís, pedi a ele que me mandasse livros que contassem os fatos da guerra pela ótica do Vietnã do Norte, com a versão deles, pois com a versão americana e de jornalistas tenho uns trinta livros. O agente da embaixada vietnamita não demorou a me enviar dois livros, publicados em espanhol.

Um desses livros é um diário de guerra do cirurgião norte-vietnamita Le Cao Dai. Nessa obra, o autor relata os esforços que os médicos faziam para atender os feridos, armando hospitais com varas de bambu, dentro do mato, para que os aviões americanos não bombardeassem. Ao mínimo perigo, desmontavam o hospital e montavam em outro lugar. Havia uma ligação permanente entre os diversos hospitais de campanha para troca de experiências cirúrgicas aplicadas em condições difíceis.

Esses esforços das esquipes médicas retratam a disposição daquele povo em lutar pelo seu propósito de autonomia, depois de séculos de dominação estrangeira.

Estes 50 anos do fim da Guerra do Vietnã devem servir aos combatentes nas guerras do Oriente Médio para uma avaliação de que a superioridade tecnológica nem sempre é suficiente para conter o ímpeto de um povo sedento por sua autonomia. Hoje o Vietnã é uma nação reerguida economicamente, sem, entretanto, esquecer a tragédia que o abateu por décadas. Agora ressurge glorioso no continente asiático.

 

     Por: Lourival Serejo



Lourival Serejo

     Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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