Assisti recentemente ao filme Conclave, de Edward Berger, em que figura Ralph Fiennes como ator principal, encarnando a personagem do cardeal Lawrence.
Com o cuidado de não dar spoiler, esclareço que o filme trata dos bastidores da eleição de um novo papa, durante a qual se destaca nitidamente a disputa entre conservadores e progressistas. Na prática, entre os que seguiriam a linha de João XXIII, Paulo VI e Francisco, para os progressistas; e Bento XVI, para os conservadores. Na sequência das repetidas sessões do Colégio de Cardeais, ficaram bem destacadas as ideias do candidato conservador.
A eleição de um novo papa é feita na Capela Sistina, onde o Colégio de Cardeais se reúne de forma sigilosa, cum clave (com chave), até que a escolha ocorra. Então, solta-se a fumaça branca e é pronunciada a conhecida expressão: habemus papam.
O filme trata de um assunto de grande importância, com repercussão e interesse para todos os católicos do mundo inteiro, com a vantagem – diferente de uma análise histórica e formal – de mostrar um ambiente ficcional onde os protagonistas vivem desembaraçadamente seus papéis, como pessoas normais, embora com a preocupação de mostrar o máximo de verossimilhança.
Mais importante ainda é a evidência de que o próximo – espero que demore o máximo – conclave para escolher um novo sucessor de Pedro envolverá inevitavelmente o desafio de optar entre dois polos com diferentes visões: conservadores e progressistas. A menos que apareça algum cardeal moderado, que fique entre essas duas opções.
Outro detalhe que impressiona no filme é a liturgia rigorosa da eleição, mantida há oito séculos, desde o pontificado de Gregório X, pela Constituição Apostólica Ubi Periculum, e alterada por Paulo VI, em 1970. Trata-se de um escrutínio sui generis, em que o candidato surge na hora, de improviso, mesmo que haja especulações antecipadas pela mídia. E o filme retrata bem essa possibilidade pelo desfecho que apresenta.
Pairando sobre toda essa movimentação, a Cúria se agita na ânsia de manter a estabilidade desse momento máximo da Igreja Católica.
Na conjugação das diretrizes desses polos a conclusão que resta comprova o quanto é delicada, principalmente nos tempos atuais, repleto de desafios de toda ordem, uma eleição dessa natureza, com tantas consequências por todos os rincões da terra.
A importância política da Igreja Católica, com mais de um bilhão de seguidores, é notável e indiscutível, o que exige muita sabedoria e prudência de quem se torna o Sumo Pontífice, em tempos tão incertos como os da contemporaneidade.
Conclave é uma obra que retrata, em permanente suspense político-religioso, uma visão clara dos conflitos internos da Igreja Católica, em uma narrativa realista.
Vale a pena assistir.
Por: Lourival Serejo
Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
Saiba mais