O VOO ALTO DA ESPERANÇA

     Há poucos dias, recebi uma ligação telefônica de um amigo idoso de Brasília, a quem devoto muito respeito. A sua conversa exalava medo. Enumerou-me vários fatos e crimes ocorridos recentemente, atribuindo-os ao momento em que vivemos, deixando clara sua apreensão pelo presente e pela incerteza do futuro.

     Como ele, muitas e muitas pessoas estão vivendo sob essa mesma atmosfera de insegurança como uma ameaça, real ou imaginária.

     Explorando esse clima, algumas frentes religiosas têm se aproveitado dessa vulnerabilidade das pessoas mais humildes e dos idosos para levar vantagem, com a promessa de milagres mirabolantes. Além dessa cooptação religiosa, outro perigo são os populistas que se apoiam nas notícias distorcidas para arrebanhar seguidores. Contra esse mal, Barack Obama já advertiu: “A democracia pode ruir quando cedemos ao medo.”

     Por coincidência, encontrei numa livraria a última publicação do filósofo sul-coreano, hoje muito divulgado no Brasil, Byun-Chul Han, com o título O espírito da esperança: contra a sociedade do medo.

     A mensagem que ele nos traz contra a disseminação do medo é a esperança: “A esperança como estado de ânimo fundamental.” Na sequência de sua narrativa, analisa vários ângulos dessa crise que abala a sociedade atua e adverte: “Somente na esperança estamos a caminho. Ela nos dá sentido e orientação. O medo, por outro lado, torna impossível a marcha.”

     Não há melhor mensagem para quem começa a viver um novo ano na sua existência do que substituir o espectro do medo pela força da esperança. Apostar nos dias vindouros com a certeza de quem acredita na vida e na transformação.

     A esperança anseia pelo novo libertador, daí sua força para superar o medo do presente porque ela “significa olhar para longe, olhar para o futuro.”

     É preciso esclarecer que a esperança de que fala Byung-Chul Han não é uma postura passiva de espera. Ela tem um “núcleo ativo”. Ela impulsiona para a busca do que se deseja, confiante num resultado promissor.

     O gênio de Dante Alighieri cunhou a frase do fim da esperança à porta do seu magistral Inferno com esta advertência: “Deixai toda esperança, ó vós que entrais.”

     Ao contrário dessa postura, podemos replicar exortando: apoderai-vos de toda a esperança, ó vós que estais vivos.

     Façamos de 2025 o ano da esperança contra a pandemia do medo.

     Feliz Ano Novo.

 

     Por: Lourival Serejo



Lourival Serejo

     Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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