PARA LEMBRAR GUSTAVO GUTIÉRREZ

     Ao receber a notícia do falecimento de Gustavo Gutierrez, ocorrido em 22 de outubro passado, lembrei-me do tempo em que me empolguei com a leitura da sua Teologia da Libertação.

     Eu estava nas portas da juventude, num momento de dúvidas, de abalo da fé, inconformado com os dogmas vetustos da Igreja, querendo segurar-me em alguma coisa mais ativa, mais visível para renovar meus conceitos religiosos.

     Foi naquele instante que me apareceu Gustavo Gutierrez, pelas mãos do padre Eider Furtado.

     Abriu-se para mim um deslumbrante painel de ação que mostrava uma nova face de Cristo e convocava a atuação de cada cristão para agir com mais intensidade em prol da solidariedade, da fraternidade e da libertação dos oprimidos.

     Gustavo Gutiérrez-Merino Díaz foi um sacerdote peruano e teólogo. Depois de formar-se em Medicina e Letras, ingressou no seminário, em Santiago do Chile. Lecionou em diversas universidades, sempre em permanente estudos de teologia, psicologia e filosofia. Acumulou 23 títulos de doutor honoris causa, oferecidos por várias universidades de diversos países.

     O foco principal de Gutiérrez foi a situação da Igreja na América Latina, a qual vivia em “situação de gueto”, segundo suas palavras. Daí seu apelo para a luta contra as estruturas opressoras e a construção de uma sociedade justa, com erradicação da pobreza e da violência, em suas diversas formas de expressão. Alerta também sobre o dever de solidariedade autêntica para com o próximo, “como ele se apresenta culturalmente”, como lembra Leonardo Boff, principalmente aqueles em estado de pobreza. A preocupação com o próximo está no cerne da evangelização libertadora, o que motivou outro apóstolo da libertação, Ernesto Cardenal, a transformá-la em poema para dizer: E ninguém é se não for diálogo. E assim qualquer um é dois, ou não é. Toda pessoa é para outra pessoa. Eu não sou eu, tu és eu. Todo ser é o eu de um tu.

     Desde o Vaticano II, com João XXIII e Paulo VI, que os rumos da Igreja alargaram-se para o mundo e para assumir compromissos sociais que contribuíssem para a elevação do homem e pelo reconhecimento de sua dignidade.

     Fico imaginando que, se Dostoiévski tivesse tido contato com a hermenêutica da teologia da libertação, não teria vivido seus tormentos e suas incoerências de fé. Com certeza, a conduta do Grande Inquisidor teria sido outra com o Cristo reaparecido.

     No Brasil, Leonardo Boff, seguindo a trilha do teólogo peruano, afirmou-se como um ativo sacerdote da evangelização libertadora.

     Com a morte de Gustavo Gutiérrez perdeu-se um grande intérprete das palavras de Cristo e um profeta da autêntica Igreja preocupada com a “criação de um homem novo”.

 

     Por: Louriva Serejo



Lourival Serejo

     Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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