Nos últimos anos, comecei a me surpreender com as primeiras manifestações do Natal, nas principais lojas comerciais da cidade. Anos atrás, começaram a despontar nos primeiros dias de novembro; depois, para a segunda quinzena de outubro; nos anos seguintes, para o começo de outubro. Neste ano, espantei-me com o anúncio do Natal na última semana de setembro.
Fico imaginando, o que não será surpresa, se aparecer uma mente fértil e inventar fazer um Natal fora de época, ali pelo fim de junho ou no mês de julho. Quem sabe se esse absurdo não surgirá um dia!
Quando eu era criança, lá em casa, o Natal começava entre 10 e 12 de dezembro, no dia em que mamãe me mandava plantar arroz, numa lata de marmelada vazia, para colocar no presépio. O presépio era armado entre 19 e 20 de dezembro. Até lá, o arroz – molhado diariamente – já estava crescido o suficiente para ser acomodado atrás da manjedoura. Separado em fatias, outra parte do arroz ficava junto às murtas.
Era uma atividade que me fazia vibrar de esperança pelo que iria acontecer. As famílias católicas da cidade obedeciam o mesmo calendário. Rezávamos diariamente perante aquela armação simbólica do nascimento de Cristo. Seguindo o ritual, o Menino Jesus só era colocado no seu lugar na noite do dia 24.
Então, o Natal durava de 20 de dezembro a 6 de janeiro. No dia 7, já começávamos a desmontar o presépio. Tudo no seu devido tempo.
A paulatina antecipação do Natal não deixa dúvida de que o mercado apoderou-se do Natal. A parte religiosa ficou em segundo plano. Natal bom para o comércio é aquele que registra elevação nas compras natalinas. Seria um exagero dizer que essa aceleração de uma efeméride faz parte da metamorfose que acomete o mundo atualmente, fenômeno tão bem estudado pelo sociólogo alemão Urich Beck.
Talvez eu esteja sendo saudosista ou pessimista não atentando para um detalhe. É que o Carnaval é festejado, nas ruas, em janeiro e fevereiro. Dois meses apenas, enquanto o Natal se desenrola em três meses (outubro, novembro e dezembro), já entrando para o quarto mês (setembro). É possível dizer que o fervor religioso está superando o carnavalesco? É um paradoxo, entre religião, mercado e costumes.
Mudando de assunto, lembro que no ano passado, neste espaço e nesta época, alertei para o fato de que teríamos um Natal dentro de uma guerra (Rússia e Ucrânia). Era só uma guerra que se destacava. Neste ano, a coisa piorou. Sem que a outra terminasse, surgia mais a guerra entre Israel e os países árabes. Ambas movidas por líderes belicosos que mandam matar crianças e destruir hospitais.
No terreno das guerras, é outro mercado que tira vantagens: o mercado das armas. Mais poderoso do que o mercado que acelera o Natal.
Por: Lourival Serejo
Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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