A INEVITÁVEL FORÇA DO TEMPO

     Ultimamente tenho me surpreendido quando encontro um contemporâneo de algum momento das nossas vidas ao constatar suas alterações físicas e faciais, em decorrência da idade. Alguns nem reconheço, tão profundos são os desgastes deixados pelo acúmulo de tantas dezenas e dezenas de “abril” vividos.

     A geografia do rosto está alterada, cheia de linhas, de peles flácidas, sulcos aqui e ali. Se homem, com os cabelos brancos e o rosto dividido em fendas bem visíveis. Então, lembro-me do conhecido poema de Cecília Meireles: “Eu não dei por esta mudança,/ tão simples, tão certa, tão fácil:/ em que espelho ficou perdida/ a minha face?”

     Para o lado que me viro, só encontro amigos idosos, alguns mentindo ao elogiar a juventude do outro, atestando a veracidade já afirmada de que um dos sinais de que estamos envelhecendo é quando alguém nos diz: como você está jovem!

     Será que o outro está me olhando do mesmo modo que estou olhando para ele, com o espanto da constatação dos estragos que o tempo fez?

     Este tema conduz a muitas vertentes de análises. Optei por apreciá-lo com um toque de humor para relaxar a ansiedade daqueles que se preocupam demasiadamente com as mutações da idade.

     Acontece, com frequência, que o envelhecimento da mente não acompanha o envelhecimento do corpo, este sempre mais apressado. A mente, o espírito, não se conformam com a realidade que o espelho mostra, principalmente para quem tem muitos projetos a realizar. Daí nasce o conflito que acaba no apelo ao botox e outros expedientes.

     O que mais abala o lado emocional da velhice é tomar conhecimento das mortes que estão ocorrendo ao seu lado: amigos, parentes, vizinhos, colegas de turmas passadas, todos contemporâneos de um tempo em que vicejava a juventude. Com razão aquela romancista escocesa quando disse: “Ter mais de setenta anos é como estar em guerra; todos os nossos estão indo ou se foram, e nós sobrevivemos entre os mortos e os moribundos, no meio de um campo de batalha”.

     Em casa, feliz do casal que envelhece simultaneamente, com as mesmas dores, tomando os mesmos remédios, indos aos médicos em conjunto e com os mesmos sinais exteriores da idade. Se um dos cônjuges for mais novo, então exige-se dele mais paciência e tolerância, pois o encontro com o rosto do outro acontece por todos os cantos da casa, dia e noite. Mas, para esse caso, ocorre um arrebatamento, como sempre observado pela literatura, que tenta embelezar essa passagem da vida com a prontidão de um poema que encerra uma lição de romantismo, como este de Carlos Fuentes:

Você continua comigo porque ninguém mais além de mim ainda se lembra da sua beleza. Só eu conservo em meus olhos velhos seus olhos jovens. 

     

     Por: Lourival Serejo



Lourival Serejo

     Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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