O futebol é o esporte brasileiro por excelência. A alegria, a satisfação que o futebol proporciona à população, em geral, é inigualável, pelo seu alcance, em todas as classes sociais. Quem já esteve num estádio de futebol (o Maracanã, por exemplo) sentiu o que é vibrar pela vitória do seu time. O torcedor grita, pula, ri, protesta, insulta, abraça o vizinho ao lado, mesmo sem conhecê-lo, faz tudo pelo sucesso da sua equipe. Naquele momento, o torcedor esquece todos os seus problemas e vive um momento de êxtase.
Agora, imaginem o desencanto desses torcedores ao saberem que um jogador do seu próprio time estava vendido, em determinados jogos, para um esquema de fraude, em benefício de apostadores gananciosos. Nesse esquema nefando, ele compromete-se a provocar faltas ou pênaltis para prejudicar o time cuja camisa porta e, assim, contribuir para a vitória do adversário.
Como pode-se classificar um jogador dessa espécie, que joga no lixo o mínimo de ética que o prenderia à sua agremiação? Que menospreza o sentimento daquela plateia que vibra, torcendo pela sua atuação? Isso não tem reparo: é ignominioso.
Punidos os infratores – torcemos para que seja uma pena exemplar –, o que ficará dessa sequência de crimes apurados? Não há dúvida de que essa capitulação dos jogadores à sedução financeira colocará em risco a confiança dos torcedores no seu próprio time. Para algumas faltas ou pênaltis que ocorrerem, a partir de agora, ficará sempre um resquício de dúvida. E não será de admirar se a torcida não começar a gritar um novo tipo de insulto, diante de algum deslize injustificável.
Nisso está, a meu ver, o ponto mais deprimente dos atos criminosos desses atletas: trair e deixar os torcedores num permanente estado de desconfiança quanto aos resultados das competições. As cicatrizes deixadas permanecerão por muitos tempos. Afinal, dois pontos fundamentais foram atingidos por esse desvio de conduta: a autenticidade e a imprevisibilidade do futebol.
O VAR elucida dúvidas objetivas quanto à arbitragem, mas não tem poder de ler a alma do jogador ao criar artificialmente uma situação para prejudicar sua camisa.
Imagino a bela crônica que Nelson Rodrigues faria se estivesse vivo para comentar esse triste episódio. Talvez até a intitulasse de “A pátria das chuteiras ladras.” Parece que ele adivinhou que isso ia acontecer quando disse: “Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos.”
Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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