Narvik é uma cidade portuária que fica ao norte da Noruega. No meio da Segunda Guerra Mundial, ali travou-se uma batalha contra a ocupação nazista, em abril de 1940. Do lado oposto, estavam os poloneses, os ingleses e os franceses.
A importância da disputa pelo domínio daquela cidade norueguesa deveu-se ao porto ali localizado, de onde saía o minério de ferro sueco, utilizado pelos alemães para a fabricação de tanques.
Embora ocupada pelos nazistas, um batalhão de soldados noruegueses reage, opondo-se à capitulação e, juntos com os aliados, conseguem expulsar os alemães. Foi uma vitória que durou poucas semanas. Essa história é contada no filme recentemente exibido pela Netflix.
O filme não é centrado somente no aspecto bélico, mas na história da família Tofte, formada por um pai (o senhor Tofte), um filho (Gunnar) e sua mulher (Ingrid), e o neto (Ole). Enquanto o filho está lutando no front, Ingrid trabalha num hotel, ocupado pelos alemães, sendo designada como intérprete por falar bem o alemão.
Embora a segunda parte seja uma ficção, o tema ali abordado nos convida a uma discussão ética de fundo.
Ao concluir a expulsão dos alemães, os soldados voltam para casa, na pequena cidade de Narvik. Enquanto todos os soldados são recebidos por suas mulheres, pais e parentes, o soldado Gunnar não é recepcionado por sua mulher e o filho. Seu pai havia morrido num bombardeio.
Gunnar se dirige para as ruínas da sua casa e ali encontra a mulher e o filho, preparando-se para partir. Ao chegar em casa, ele já sabia o que havia ocorrido, e ela, prevendo sua reação, já estava abandonando o lar.
Então surge o dilema ético para Gunnar: ficar com a mulher e o filho ou repudiá-la, em nome do valor moral de defender a pátria que cabe a todo cidadão, o qual foi gravemente violado por Ingrid.
A mulher de Gunnar foi acusada e isolada pela população sob acusação de que havia ajudado os alemães a localizarem o cônsul inglês que estava refugiado numa cabana, de onde comandava a reação aos nazistas. Ela, por sua vez, defendeu-se alegando que sua conduta foi motivada pelo amor maternal – outro valor ético – para salvar o seu filho que estava em coma devido a uma grande infecção causada por um estilhaço em seu corpo. Embora tenha buscado ajuda, não conseguiu um médico, sentindo-se compelida a trocar a informação que detinha pelo atendimento médico que veio logo salvar o filho.
Os períodos das guerras fornecem muitas situações iguais a essa, em que alternativas de condutas se debatem em busca do melhor amparo ético. Em direito, chamamos esses fatos de hard case – caso difíceis, os quais, muitas vezes, paralisam os julgadores em busca da decisão possível que se aproxime mais do justo.
O tema é complexo e exigiria uma digressão que o espaço não me faculta.
Fica, entretanto, como conclusão, que o debate ético aqui levantado não tem uma resposta definitiva, servindo, porém, como uma ferramenta para reflexão e discussão para avaliarmos o grau de complexidade das decisões humanas e a necessidade de invocar-se a ponderação como método para avaliar-se a situação concreta.
No desenlace do filme aqui comentado, o jovem marido, a princípio, repudiou a mulher. Mas, atendido por um amigo, deixa a farda e, em trajes civis, corre à procura dela e do filho que já estavam numa barca, para ser retirada da cidade com a população.
Por: Lourival Serejo
Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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