MAIS UMA LIVRARIA QUE FECHA SUAS PORTAS

               Livros não são apenas artigos de luxo; são alavancas de nossa consciência. Toda vez que uma livraria fecha, morre uma discussão. Isso não é bom.

Adam Gopnik

 

   Mais uma livraria sucumbe, em São Luís, abatida pelas regras do mercado, da indiferença às letras pela geração dos algoritmos e pelas transformações dos valores.

     A Livraria Themis, ao longo do tempo, prestou relevante contribuição à cultura maranhense, oferecendo oportunidade de aquisição de livros recém-lançados, em todas as áreas de conhecimento, notadamente a literatura e bibliografia jurídica.

     Na antiga Roma, quando ter livros em bibliotecas particulares era sinônimo de poder e de sabedoria, começaram a surgir as primeiras livrarias do mundo para vender livros editados em papiros, que formavam rolos de difícil manejo.

     Com a evolução da humanidade, o surgimento da imprensa, os livros conquistaram lugar de destaque no mundo cultural.

     A crise dos livros, tema já abordado por mim, em crônica anterior, atinge todo o Brasil. Nos últimos anos, várias livrarias foram fechadas no Rio de Janeiro. A difusão da venda pela internet e a competição com grandes vendedoras como a Amazon são apontadas como algumas das causas principais do declínio das livrarias.

     As pequenas livrarias não têm capacidade econômica para competir com as redes que vendem livros mais baratos com entrega imediata. Além da diminuição de leitores de livros físicos, a decadência do hábito de leitura tem comprometido a sobrevivência de livrarias. Nas universidades não é raridade encontrar estudantes que nunca leram um livro.

     As bibliotecas particulares estão desparecendo. Atentem para os avisos de venda de casas e de apartamentos. Não se encontra em nenhum classificado a alusão de que o imóvel tem local para biblioteca. O falecimento de notáveis bibliófilos tem alimentado os sebos, que estão abarrotados de livros, pois aos familiares dos ilustres falecidos não interessa a conservação daquele “entulho” em casa. Alguns até os queimam.

     Terá razão Jorge Carrion, pesquisador de livrarias no mundo inteiro, quando disse que a livraria é líquida, temporária, dura o espaço de sua capacidade de manter com mudanças mínimas uma ideia do tempo?

     Segundo informações colhidas na internet, o Brasil perde uma livraria a cada três dias. Entre 2014 até hoje, já fecharam 895 livrarias brasileiras. Talvez seja um exagero essa estatística, mas o certo e comprovado é que as livrarias estão vivendo uma crise sem precedentes. Hoje contamos com 2.200 livrarias. Em contrapartida, Buenos Aires tem 734 livrarias. Bogotá e Buenos Aires disputam a quantidade de livros por habitante.

     Por outro lado, em paradoxo, as bienais e feiras de livros ficam lotadas de pessoas de todas as idades. Ainda, para não perdermos a esperança, a Leitura acaba de inaugurar a sua centésima livraria. Talvez seja o preço do livro que, no Brasil, é muito alto, um fator que também afasta os consumidores das livrarias. Lembro-me de que, em Havana, fiz uma pilha de livros numa livraria e quando fui pagar era o equivalente a doze reais.

     Voltando à livraria Themis. Seu fechamento vai me subtrair o prazer de ir ao Shopping Tropical, aos sábados, para ver e adquirir alguma novidade. Ali, muitas vezes, encontrava os últimos lançamentos e, também, sempre alguém para conversar, confirmando a constatação de que o espaço físico de uma livraria é um ambiente emocional de recarga humana.

     Por essas e muitas outras, é triste, muito triste, ver uma livraria fechar suas portas.



Lourival Serejo

     Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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