INVASÃO DO IRAQUE: O MAL QUE BUSH CAUSOU À CULTURA UNIVERSAL

     Lembro-me bem daquela noite de março de 2003. Estava em Brasília, quando vi, pelo Jornal Nacional, a notícia de que George W. Bush havia determinado a invasão do Iraque. Na tela, apareciam as rajadas de foguetes que pareciam meteoros no céu de Bagdá.

     A Guerra do Iraque nasceu de uma estupenda fake news divulgada por George Bush de que Saddam Hussein tinha um depósito com armas de destruição em massa. A Inteligência americana apresentou relatórios improváveis, que foram apoiados pelos “homens do presidente”, entre os quais o vice-presidente Dick Cheney e o secretário de Estado, Colin Powell. O resultado foi uma mortandade de quase duzentos mil iraquianos e mais de quatro mil soldados americanos.

     Depois que foi comprovada a falácia, Bush caiu na impopularidade e no repúdio. Hoje vive em seu retiro, ruminando seu passado sem glória, entre remorsos e pesadelos.

     Dentre os efeitos funestos daquela guerra, há uma tragédia pouco lembrada que me impulsionou a falar desses 20 anos: a tragédia cultural, que ficará no rol dos infortúnios da humanidade. É que os foguetes americanos atingiram o Museu Nacional e a Biblioteca Nacional, onde estavam os volumes mais antigos do Alcorão e inúmeros livros centenários. No Museu, o desastre foi ainda pior: milhares de artefatos da antiga Mesopotâmia – mais de 250 mil peças – foram destruídos e saqueados. Além disso, desapareceram coleções que retratavam os tempos de Hamurábi e de Nabucodonozor.  

     Lucien X. Polastron, em sua obra Livros em chamas, informa que a maioria dos dois milhões de volumes da Biblioteca Nacional  foi reduzida a cinzas; que a biblioteca de Awqal, com 7.500 manuscritos, foi pilhada e incendiada; que milhares de livros em argila dos museus de Bagdá e Mossul foram  destruídos; que a biblioteca de Sippar, descoberta em 1986, foi aniquilada, estando em processo de tradução das suas tabletas; que dez mil sítios arqueológicos foram destruídos; que Nippur e o tempo de Enil foram destruídos em um mês.

     Os computadores nos quais estava catalogado todo o acervo do Museu foram destruídos ou levados pelos saqueadores, o que tornou impossível o trabalho de levantamento das peças desaparecidas. A pilhagem foi patrocinada, em sua maior parte, por colecionadores privados. E os soldados americanos não fizeram nada para impedir. Só se preocuparam em proteger o Ministério do Petróleo.

     E não foi só em Bagdá que ocorreu essa destruição cultural. Também nas cidades de Mossul, Basra e Tikrit foram destruídas as bibliotecas e os museus.

     Outro mal que causou o bombardeio de Bush foi o afloramento do Estado Islâmico com toda a crueldade que tem praticado por onde se instala. A Universidade de Mossul, por exemplo, foi destruída por um ataque do Estado Islâmico.

     Nesse processo de destruição, os EUA contaram com a ajuda da Inglaterra. Ambos os países não assinaram a Convenção de Haia de 1954 sobre a proteção dos bens culturais dos países atingidos por guerras.

     A história das bibliotecas e dos museus, desde a antiguidade, registra uma série de destruição e fogueiras contra os livros e as peças ali depositadas. Foram ações de bárbaros e de ditadores, inimigos de tudo o que faz o cidadão pensar e se expressar culturalmente. No caso do Iraque, os saques ainda tiveram a ajuda dos ávidos colecionadores que conseguiram desconhecer a lei iraquiana que proibia a exportação de peças históricas.

     O mal que George Bush fez à humanidade não tem reparo. São esses tristes 20 anos que se registra neste março de 2023.

Por: Lourival Serejo



Lourival Serejo

     Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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