O CASO E O OCASO DE DANIEL ALVES

     Os artistas, em geral,  gozam de muitos privilégios e uma popularidade que, às vezes, até se torna incômoda e invasiva às suas intimidades. Mas, no momento que formam uma dimensão de admiradores e de entusiastas, eles perdem parte de sua independência para se adaptarem à condição que alcançaram. É o preço que a fama cobra.

     No futebol, não é diferente.

     Ocorre, entretanto, que muitos desses ídolos se esquecem da responsabilidade que se estabelece entre eles e seus admiradores. Está bem claro no best seller, lido por gerações e gerações de leitores, a lição de Exupèry: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.” No futebol, em particular, essa observância ética é talvez até maior, porque grande parte dos torcedores é formada por crianças.

     Então chego onde pretendia chegar. Tivemos dois escândalos anteriores e um recente, envolvendo notáveis jogadores do futebol brasileiro.

     O primeiro, foi a prisão de Ronaldinho Gaúcho, por ações ilegais no Paraguai; o segundo, foi o caso de Robinho, condenado pela justiça italiana por estupro. Agora, assistimos estarrecidos ao desenrolar do caso de Daniel Alves, também preso por suspeita de estupro, na Espanha.

     Neste espaço, tecerei breves comentários sobre o último caso.

     Daniel Alves afirmou-se como um profissional que conquistou respeito nacional e internacional, ao longo do seu desempenho nos estádios. Com 39 anos de idade, deu sua última contribuição ao futebol brasileiro, participando da Copa do Mundo de 2022, com habilidade e segurança. O técnico enfrentou a resistência de muitas pessoas contra a sua convocação. Mas Tite apostou no seu talento e na sua história.

     Poderia ter encerrado sua carreira no ápice da glória, uma vez que neste ano já completará 40 anos. Mas não, caiu no precipício moral provocou a execração pública e saiu de campo com um cartão vermelho na sua história.

     O tipo penal que a conduta de Daniel Alves supostamente infringiu impediu de levantar-se uma torcida a seu favor. Todos nós, seus torcedores, só temos a lamentar a sua situação, mas seu crime foi de uma dimensão muito elevada, que ofende a sua reputação como ídolo, como exímio jogador, como chefe de família  como filho e como pai. No momento em que se debate sobre a sexualidade como forma de dominação machista, o desvio de conduta de Daniel acirra ainda mais o repúdio de uma grande torcida.

     Certa vez, li nas páginas amarelas da Veja uma entrevista com Robert Downey Jr., consagrado ator americano de Hollywood, de vida conturbada, que passou um ano na penitenciária da Califórnia, por envolvimento com drogas, a declaração de que tudo atualmente está aberto ao público e sua avaliação, o que obriga as pessoas a examinar suas ações como mais atenção para distinguir entre o certo e o errado.  No instante em que você pisa na casca da banana – disse ele –, o seu escorregão já pode ser visto em toda parte.

     Ao fazer estas observações, não estou a defender que os jogadores se recolham a uma redoma de vidro. Não é isso não. São jovens e, quase sempre, ricos, e precisam, aproveitar a juventude. Nem todo jogador tem o autocontrole de Cristiano Ronaldo, o que significa que nem todos devem ser igual a ele.

     Após a morte do rei Pelé, o que se ouviu dele nos dá conta de uma vida tranquila, sem estardalhaço midiático e sem deslize moral. Mereceu, portanto, até o fim da vida todo o louvor que teve. A mesma coisa se aplica a Roberto Dinamite, também falecido recentemente.

     Só tenho a lamentar, lamentar muito, o fato de Daniel Alves ter chegado ao ocaso de sua carreira, envolvido numa aventura desastrosa, apagando todas as luzes que acendeu ao longo da sua carreira. Perder a boa reputação, nos acréscimos de suas atividades profissionais,  é pior, muito pior do que perder um pênalti, em final de campeonato.

     Por: Lourival Serejo



Lourival Serejo

     Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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