O ano de 2022 inclinou-se para seu desfecho, agora em julho, ao começar o segundo semestre. Nessa altura, os Reis Magos já estão planejando sua longa viagem até Belém. É a correnteza da vida. Mas não é desse assunto que tratarei aqui. Voltarei a um tema já debatido neste mesmo espaço: a frequência das mortes violentas.
Afora as mortes por motivos naturais, multiplicaram-se os homicídios com todas as agravantes, até mesmo as matanças oficiais praticadas pela polícia.
Sempre que leio a página policial de um jornal (quem ainda lê jornal?), diante da notícia de homicídio, procuro ver logo a idade da vítima. Nos últimos anos, o predomínio de jovens assassinados aumentou consideravelmente. Jovens entre 17 e 25 anos morrem diariamente. Quando não são conflitos com a polícia, são acidentes de toda espécie. A morte de um jovem é um trauma para a família e para a sociedade. Seja quem tenha sido ele ou o que tenha feito, sempre é um fato lamentável porque se estanca uma vida na sua primavera.
Como autoridade, sinto-me impotente sem nada poder fazer. Tento me levantar da cadeira para começar a fazer alguma coisa e não vejo como prosseguir. Precisaria, a princípio, de aliados para alertar a sociedade e as autoridades executivas sobre o desemprego, a distância da sala de aulas, e todos os males da exclusão social, inclusive a fome, que, no dizer de Hélder Câmara, já é, em sim, um estado de guerra.
Sobre a violência policial, não posso deixar de registrar minha indignação com o ocorrido recentemente no Rio de Janeiro, na Vila Cruzeiro, onde uma ação da polícia carioca deixou 23 mortos, a maioria jovens. Ano passado, foi em Jacarezinho, com 25 mortos. Ambos os ataques foram praticados com a indiferença do governador. Lavou as mãos e entregou os morros às feras.
Importa e preocupa muito constatar que o massacre da Vila Cruzeiro foi um ato de afronta ao Supremo Tribunal Federal que havia proibido operações policiais nos morros cariocas.
Por sua vez, o governador de São Paulo autorizou sua polícia a matar todos os suspeitos que levantarem as mãos durante as operações policiais, sob o entendimento de que assim fazendo está defendendo o bem estar da sociedade.
A comprovação do que a polícia tem praticado, no Brasil, leva à conclusão de que o Estado declarou guerra aos possíveis criminosos, vistos da maneira mais genérica possível. Vila Cruzeiro é um exemplo disso. O amparo político que os policiais têm hoje leva qualquer membro das polícias estaduais a tornar-se um fazedor de justiça, um agente da legalidade, podendo – ou devendo – eliminar todos que ameaçam a ordem pública.
Para demonstrar preocupação com a violência, sempre surge um parlamentar com a ideia “original” de propor uma lei para criminalizar tal ação ou aumentar a pena para determinado crime. Imaginam os legisladores que aumentar a pena inibe o crime. Assim sendo, bastava adotar a pena de morte – praticada em alguns países – e não haveria mais crimes.
Então, ocorre o seguinte fenômeno: a vulgarização da morte, dos assassinatos. De tanto se ver e ouvir sobre mortes, matanças e operações policiais, já não se sente nada. A frequência gera a insensibilidade.
Alguns mais insensatos torcem para a eliminação dos “bandidos” a bala. Outros, integram-se ao grupo dos precavidos e compram armas. E assim, as mortes continuam e não se vê nada no horizonte para evitá-las. Vê-se, entretanto, a confirmação de que estamos com uma população de 33 milhões de brasileiros passando fome. Como demonstra a dialética, tudo se relaciona.
Por: Lourival Serejo
Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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