A chegada de um novo ano traz, em si, uma carga de esperanças e projetos. A novidade deste ano de 2022 é o desafio de como sustentar esses projetos na era das incertezas e a ameaça contínua de uma pandemia que se recusa a dar-se por vencida. Soma-se a isso, a situação política e econômica que estamos inseridos por força da cidadania.
Se levássemos essa problemática à minha irmã mais idosa, ela não teria dúvida em fazer uma promessa e rezar um terço.
Nem reza nem desânimo.
A receita que proponho compõe-se de quatro medicamentos. O primeiro é fortalecer a confiança em si mesmo e alimentar a fé corajosa em cada amanhecer. Como disse a poeta paranaense Helena Kolody: “quem viaja em direção ao sol, é sempre madrugada”.
Os perigos das esquinas são evitados pela atenção de viver à deriva. É preciso estar atento também para não se deixar envolver passivamente pelo que o filósofo sul-coreano da atualidade, Byun-Chul Han, chamou de “sociedade do cansaço”: esquecer sua vocação humanista, cristã, para se preocupar apenas com o desempenho em seu trabalho e no mundo competitivo. Estamos assistindo à volta do niilismo com todos os seus aspectos negativos.
O isolamento leva o ser humano à esterilidade social, tornando-o inútil para o seu próximo. Até a medicina já comprovou que o envolvimento com as pessoas cura. Entregar-se a serviço do outro como faz hoje meu amigo Mário Cella é se tornar útil no meio de tantos clamores. Essa prática já era adotada em tribos africanas há muito tempo. Numa comunidade, todos viviam – e ainda vivem – para todos, seja nas doenças, seja nas festas, todos adotam o espírito superior que os guia e mantém o grupo unido. A atual justiça restaurativa, hoje tão propalada, inspirou-se nesses ensinamentos africanos de acolher e recuperar aquele que pratica um crime ou uma ação nociva. Naquele ambiente tribal predomina a generosidade recíproca.
A estranheza, o medo e a indiferença estão vencendo a alteridade. À nossa volta, a fome está se propagando como prova dessa constatação. A pobreza cresce em proporção inversa à riqueza das elites.
Se me pedissem uma mensagem para o ano novo alertaria para a necessidade de apoderar-se de uma autoconsciência crítica e avaliarmos o que estamos fazendo pelo outro, em que estamos contribuindo para levar “vida em abundância” para os excluídos.
Feliz 2022 para todos os leitores!
Por: Lourival Serejo
Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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