LINCHAMENTO EM VIANA

     Os lobos que viviam recolhidos, por uma capa de civilidade, estão furiosos, rompendo a crosta e atacando com freqüência nunca vista. A violência atual tirou a assertiva de Hobbes do armário (o homem é o lobo do próprio homem) para confirmá-la em todos os lugares, por qualquer motivo.   

     Agora, fui surpreendido com a notícia de que, em Viana, uma alcateia de lobos enfurecidos praticou o linchamento de um ladrão, dentro de uma igreja evangélica, onde ele havia se refugiado. Um grupo de moradores perseguiu a vítima até o final. Depois, essas pessoas saíram realizadas como se houvessem cumprido um dever.

     Para quem conheceu aquela cidade tão calma, onde se andava pelas ruas escuras, de um lado para o outro, sem medo; onde, às vezes, a gente esquecia de fechar a porta da rua, é triste comprovar o nível de violência a que chegou nos últimos anos. São sucessivos assassinatos e ninguém se surpreende mais. Nem se diz mais “mataram Ramiro”, mas “mataram um homem”. E ninguém se importa em saber quem era. São os novos homo sacer dos tempos romanos: aquele nascido para morrer. Um verme social pertencente a uma casta daqueles que podem ser morto, sem despertar qualquer reação.

     A exceção ocorre quando a vítima é uma pessoa conhecida e estimada pela sociedade, como foi o caso recente, também em Viana, da execução do professor Marcus Carvalho, abatido por três tiros, quando chegava à casa do pai.

     O desejo de sangue que essa massa ignara do linchamento praticou é o mesmo que se transmuda nas redes sociais com outros métodos de massacre. Já estão praticando, inclusive, um tipo de morte virtual por qualquer deslize de uma pessoa pública: o cancelamento. O linchamento virtual, midiático, tem efeitos deletérios irremovíveis na personalidade da vítima.

     A pressa de ver o criminoso punido não pode esperar o veredicto da Justiça, muitas vezes desacreditada.

     E não é só no ato de “matar alguém” que a violência se expressa hoje: ela está no racismo, na homofobia, na pedofilia e tantas outras formas atuais de ódio. A forma mais atual dessa violência é a necropolítica, porque leva a verdadeiros genocídios contra populações vulneráveis como uma forma concebida do poder sobre a vida.

     É difícil para um vianense acreditar que, em sua terra, que tanto inspirou poetas, não se respeite nem uma casa de oração para praticar um linchamento movido pela fúria.

     Se meu pai fosse vivo, pronunciaria sua frase costumeira: “ah, se eu fosse jornalista para denunciar essas coisas.”. Denúncias não adiantariam, seu Nozor, os tempos e os costumes são outros.



Lourival Serejo

     Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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