Hoje em dia, com tantas alternativas concorrentes, o hábito da leitura vai se esvaindo cada vez mais, não obstante as campanhas para cooptar leitores e a facilidade de encontrar livros que atendam às preferências mais variáveis.
De longe, à espera de um milagre para superar essa crise, encontra-se o escritor, vendo a pressa do rio a correr, enquanto ouve as estrelas.
Ter um público-alvo, não se importar em ser ou não lido, escrever para si mesmo, escrever para os integrantes de uma elite intelectual são opções que, consciente ou inconscientemente, agitam a mente de um escritor.
Nas entrevistas que os curiosos fazem aos escritores, é comum inserir-se esta pergunta: Qual o leitor ideal? As respostas são as mais variadas. Uns acham que é aquele que faz perguntas; outro, o que aperfeiçoa o texto; outro mais, o que descobre qualidades que os críticos ignoram. E assim por diante.
O certo é que todo escritor almeja encontrar leitores que leiam e gostem daquilo que escreveu com tanta dedicação. Leitores que se identifiquem com suas narrativas e compreendam a sua mensagem.
O pior fantasma que assombra todo escritor é o silêncio dos leitores. Você lança um livro, depois de uma gestação de meses ou anos, fica ansioso pela receptividade e esta não responde nada. Apenas o silêncio. É preciso, nessas ocasiões, reunir toda a sua persistência e vocação para continuar escrevendo, indiferente a tudo. Na história da literatura universal, há escritores consagrados que sofreram, no início, a mágoa da indiferença e da crítica. Depois, seus valores foram reconhecidos e passaram a ser respeitados. Pior é quando esse reconhecimento só vem depois da morte, como aconteceu com Melville e Kafka, dentre outros.
Certa vez, estava num shopping, no Rio de Janeiro, quando vi uma multidão de jovens disputando o melhor lugar para ver, abraçar, receber um autógrafo e tirar uma selfie com o escritor americano Nicholas Sparks. Ali estava o que se concebe atualmente como um escritor consagrado, com milhares de leitores fervorosos.
Esse exemplo, entretanto, não deve ser lembrado como termômetro de realização. Qualquer escritor, por mais desconhecido que seja, tem seu grupo de leitores, ainda que seja só de amigos e familiares.
Felizmente, tenho encontrado muitos leitores dedicados que comentam e demonstram uma reação positiva após a leitura dos meus livros. Por exemplo, dentre meus confrades, já contei com deferências críticas de Alex Brasil, Ceres Fernandes, Laura Damous, Manoel Aureliano, José Neres e Ronaldo Fernandes. Entre alguns amigos, há muitos entusiastas das minhas produções literárias. Um jurista e amigo paraense, sempre que me encontra, recorda passagens do meu livro Do alto da Matriz .Os falecidos irmãos Mohanas, Kalil e Ibrahim, sempre leram com atenção as minhas crônicas. O Ibrahim tanto lia como telefonava e, às vezes, escrevia alguma avaliação.
Sobre esses tipos de leitores fiéis ao que escrevo, teria muitas histórias para contar. Vou-me ater, para poupar o leitor, apenas à última descoberta que fiz de um leitor ideal, o que me deixou suspenso de satisfação pelos seus comentários e pela sua respeitabilidade, como professor e intelectual. Estou me referindo ao professor Alberto Tavares.
Encontrei-o, no Palácio Cristo Rei, por ocasião do lançamento do livro do ministro Reynaldo Soares, e ali, ele desfiou para mim cada crônica que havia lido da minha última obra, recém-lançada, Os mistérios de uma cidade invisível. Tanto recordava-se dos títulos das crônicas como do assunto de cada uma. Ainda me deixou jubiloso por constatar, pela sua feição e pelo seu gesto, que eu havia produzido um texto macabro, na crônica “A mão”, o que significou para mim que atingi meu objetivo ao ser compreendido por um leitor.
Feliz o escritor que encontra, no seu caminho, um leitor atento, a exemplo do professor Alberto Tavares. De repente, a gente se apodera de uma autoconfiança e corre para continuar escrevendo mais e mais. Quem sabe, novos leitores perfeitos serão cativados.
Por: Lourival Serejo
Publicada em 11.8.2019, pelo Imparcial
Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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