A CONTRIBUIÇÃO DA LITERATURA DISTÓPICA PARA A CIDADANIA ALERTA

      Não se trata de uma novidade surgida agora. Esse gênero literário já existe há muito tempo, representado em obras como Admirável mundo novo, de Aldous Huxley; 1984, de George Orwell; Farenheit 451, de Ray Bradbury; Laranja mecânica, de Anthony Burguess; e O conto da Aia, de Margaret Atwood, dentre outras.

     O que é novo é a importância que esse tipo de literatura teve, depois da eleição de Donald Trump e da ascensão da extrema-direita pelos quatro cantos do mundo.

     O termo distopia é o oposto de utopia. É uma antiutopia. Enquanto a utopia refere-se a um lugar ideal para se viver, a distopia aponta para um mundo sombrio, cujo poder político é autoritário e sombrio.

     Os enredos traçados nessas obras têm ambientes em que predominam a força e a falta de liberdade como denominador comum. São países imaginários onde vigora o regime totalitário, sem liberdade, e as pessoas são controladas em todos os seus movimentos.

     Diante do perigo em que a democracia se encontra, a procura e a divulgação dessas obras (alguns figuram na lista dos mais vendidos há meses, tanto no Brasil como nos Estados Unidos) servem para que o leitor fique atento para o risco da supressão do Estado de Direito e o fim das liberdades individuais.

   No caso de Farenheit 451, o poder absoluto, depois de instalado, voltou-se para eliminar o material considerado mais perigoso: os livros, porque ajudavam o povo a pensar. O papel dos bombeiros é queimar, sob a temperatura de 451 graus Farenheit, todos os livros existentes. Em certo momento, um personagem constata que só restou um exemplar da Bíblia. Todas as bibliotecas e livros particulares foram queimados.

     A alegoria política tratada pela obra de Margaret Atwood, O conto da Aia, se passa na República de Gilead, onde vigora um regime totalitário e teocrático que controla todos os passos de cada cidadão e prega a volta dos valores tradicionais.

     Preocupados com a queda da natalidade, os Comandantes (posto maior na hierarquia do poder) selecionam um grupo de mulheres – as Aias – aptas a procriarem, as quais são submetidas ao ritual de estupros freqüentes, com o apoio e assistência das próprias esposas estéreis. Essas crianças, assim geradas, são chamadas de “filhos de Jacob”, em alusão à passagem bíblica de Jacob e Raquel (Gênesis, 30, 1-3).

     Em Gilead, sob as mais surpreendentes acusações, há execuções constantes, com a exposição dos cadáveres para lembrar à população o dever de obediência. Os gays são executados a pretexto de “traição por falsidade de gênero”. A população vive sob o temor de uma guerra imaginária e é controlada pelos Olhos, pelas Tias, e pelos Guardiões. A saudação oficial entre as pessoas é “Louvado Seja”. Para cada notícia ou reverência prestada a uma pessoa, o interlocutor responde: Louvado Seja.

     No momento em que as democracias estão correndo risco por todos os lados do planeta, O Conto da Aia, assim como toda a literatura distópica divulgada e relançada, serve para nos mantermos vigilantes contra as astúcias dos inimigos da liberdade. Esse é o motivo por que essas obras ficcionais tornaram-se hoje best-seller.

Por: Lourival Serejo

  



Lourival Serejo

     Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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