Há muito que o uso correto dos pronomes de tratamento vem sendo ignorado por estudantes, profissionais e qualquer cidadão que tenha concluído o ensino fundamental ou mesmo um curso superior. A informalidade, a familiaridade exagerada e o desrespeito vem predominando nas relações sociais e nas redes de comunicação.
A primeira explicação é a mais óbvia: o desconhecimento do uso desses pronomes. Não aprenderam na escola e, muito menos, na família.
A segunda é uma questão de moda. Técnicos da comunicação entenderam que chamar o outro ou uma pessoa idosa por "tu" – seja um freguês, uma autoridade, um médico, um advogado, um juiz etc – cria uma atmosfera de intimidade e envolvimento, resultando num efeito mais positivo. "Senhor", "senhora", "excelência", "eminência" e outras formas de tratamento levantariam uma barreira formal e comprometeriam o resultado do diálogo. É o que dizem.
Por essas duas causas, ouvimos advogados, na tribuna do Pleno do Tribunal, dirigirem-se aos desembargadores por "vocês"; ouvimos jovens chamarem os professores e os idosos por "tu".
Em minhas conversas com estudantes de Direito, sempre procuro informar-lhes das terminologias técnicas que devem ser obedecidas por um bom profissional e advirto que ao chamar uma autoridade por "excelência" é uma homenagem que se faz ao cargo que ela exerce, ainda que a pessoa investida não tenha nada de excelente.
Recentemente a Mesa Diretora do Tribunal de Justiça esteve em Imperatriz e, ali, numa coletiva da imprensa, um jornalista e uma jovem, ao que tudo indicava, também jornalista, dirigiram-se ao presidente, ao vice-presidente e ao corregedor chamando-os por "vocês". E então, qual o nome que se pode dar a essa atitude?
Certa vez, meu confrade Carlos Gaspar corrigiu uma jornalista que foi entrevistá-lo na Academia e começou a primeira pergunta chamando-o por "tu". Para meu espanto, ouvi, quando estava em Imperatriz, como juiz, uma colega juíza dirigir-se ao bispo com esta rispidez: "Bispo, tu..."
Em várias crônicas, tenho, talvez por saudosismo, falado em telegramas – uma raridade hoje em desuso. E o assunto de que trato aqui me faz lembrar quando, lá em casa, tínhamos que passar um telegrama para um doutor ou uma autoridade qualquer, ficávamos debatendo e buscando na gramática o tratamento correto. Era um dilema que teve seu ápice quando um padre e amigo foi "promovido" a monsenhor. E aí, qual o tratamento que se daria a um monsenhor. Nosso receio era não passar recibo de ignorantes.
Pode-se justificar essas agressões à gramática e à cortesia (o mínimo de cortesia) como uma marca dos novos tempos? Ou é falta de educação mesmo? O tema valeria uma mesa redonda com professores e comunicadores. Afinal, essas informalidades estão se generalizando e contam com apoiadores.
Em junho passado, na França, numa cerimônia pública, um jovem chamou o presidente Macron, ao passar perto dele, por um apelido: "E aí, Manu?" A reação de Macron – que não veio da política profissional – foi imediata e repreensiva: "É senhor presidente! Você está numa cerimônia oficial, tem que se comportar".
Pode até parecer intransigência da idade, mas afora o lado gramatical da questão, entendo sua relevância inclusive pelo lado maior da civilidade e do respeito pelo outro.
Por: Lourival Serejo
Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
Saiba mais