Colômbia e a derrota da paz

A rejeição ao Tratado de Paz com as Forças Armadas Revolucionárias Colombianas – FARC pelo povo colombiano, em plebiscito realizado no dia 2 de outubro, deixou o mundo surpreso e até indignado. Lamentável, ainda, foi constatar-se o percentual de abstenção: mais de 50% dos eleitores deixaram de votar.

A guerrilha revolucionária da Colômbia iniciou-se na década de sessenta, do século passado. Até começarem as negociações, contavam-se mais de  260 mil mortos, o que significa cinco vezes o número de soldados americanos mortos no Vietnam, que chegou a um total de 57 mil homens.

Depois de anos e anos de costura de um tratado de paz, quando tudo já estava conhecido e assinado, o povo, em sua maioria, foi às urnas e disse NÃO: não queremos paz com os guerrilheiros, não queremos perdoar, não queremos esquecer; queremos punição, intolerância e retaliação.

Até Ingrid Bettancourt, candidata a presidente da Colômbia, sequestrada pelas FARC e afastada da família por mais de dez anos, estava a favor da paz.

Faltou aos colombianos atentarem para as lições de Mandela, ao derrotar o apartheid e eleger-se presidente da África do Sul. Quando todos esperavam dele uma política de retaliações aos brancos, ele apontou o caminho da paz, do perdão, da tolerância. Sob o signo da "verdade e reconciliação" ele admitiu que as verdades fossem reveladas, mas sem punição. Para um homem que passou 27 anos preso, essa postura foi a suprema expressão da arte de perdoar. Estou trabalhando agora – disse Mandela – com as mesmas pessoas que me atiraram à prisão, perseguiram minha mulher, seguiram meus filhos de uma escola para outra... e sou um dos que dizem: "Esqueçamos o passado e pensemos no presente".

Para mostrar a dimensão do erro daqueles que optaram pela negativa da conciliação, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz, em reconhecimento ao seu esforço para acabar com uma guerra que já dizimara milhares e milhares de vítimas.

 A lição que faltou aos defensores do NÃO, no malogrado plebiscito, é que a política não deve ser intransigente, intolerante e dominada pelo ódio. Como arte de convivência, do arranjo social, a política não pode cegar-se pela intolerância, mas sim apoderar-se dos valores que transcendem as mágoas e os entraves pessoais, em prol do bem comum.



Lourival Serejo

     Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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