O mundo inteiro assistiu, incrédulo, aos levantes populares que derrubaram os governos da Tunísia e do Egito e sente que outros, de iguais proporções, já estão se formando em países da África e da Ásia que vivem sob governos ditatoriais. O Iêmen e a Líbia do ditador Muammar Kadafi podem ser as próximas pedras a cair desse dominó da libertação.
Se Castro Alves ainda vivesse, ele, que cantou as desgraças do continente africano, clamando a Deus para responder seus apelos, decerto que se rejubilaria com tamanha façanha daquele povo.
Esses acontecimentos sugerem, de imediato, uma leitura de fácil conclusão: a força do povo é incontrolável. Quando o povo toma consciência e se rebela, nada o detém. No caso do Egito, aliaram-se a essa força natural o poder dos meios de comunicação e o poder da internet, esse polvo de incontáveis tentáculos que dominou o mundo. As proezas do Wikileaks desnudando a diplomacia de sua aparência formal, abalando o relacionamento entre países, comprovam que o poder da comunicação é irreversível, daí a preocupação do presidente venezuelano em censurar, com rigor, os meios de comunicação daquele país.
Por oportuno, impõe-se lembrar aqui a obra de Etienne de La Boétie, Discurso da servidão voluntária, que, embora publicada em 1577, continua reconhecida e sempre atual. Nela, o autor alerta para o fato de que a privação da liberdade é culpa do próprio povo que se deixa dominar. Como ele (o dominador) tem algum poder sobre vós, senão por vós? Pergunta o autor.
O cômodo e subserviente aforismo “manda quem pode e obedece quem tem juízo” não tem aplicação onde falta legitimidade a quem manda e deixa de ser atendido quando o povo se apodera de seu juízo crítico para derrubar bastilhas e resgatar a liberdade.
A opressão dos governos ditatoriais é um efeito do medo e da consciência da efemeridade do poder ilegítimo. A História está cheia desses exemplos, inclusive a nossa própria história. A propósito, há uma passagem da História do Brasil, no período da revolução de 1930, que serviria aos governantes que se eternizam no poder e têm medo da democracia. Esse episódio ficou sintetizado na célebre frase do governante mineiro Antônio Carlos, quando disse: “Façamos a revolução pelo voto, antes que o povo a faça pela violência.”
No país das múmias, a imobilidade popular foi rompida e a juventude apoderou-se da força das águas do Nilo, dos mistérios das pirâmides e fez a revolução sem armas e sem medo. Os gritos de libertação da praça Tahrir podem ecoar pelo mundo e fazer mais devastações em toda nação em que as liberdades e os direitos individuais estão oprimidos.
No meio dessa euforia, ressalto que a incerteza política dos países que derrubaram seus ditadores (Tunísia e Egito) é preocupante, não pelas naturais agitações que podem ocorrer na transição e no processo de reestruturação do Estado, mas pela ameaça de que nesses países venham a instalar-se governos fundamentalistas, em que o fanatismo religioso seja a lei e a ordem. O Islamismo no poder tende a tornar-se uma teocracia, e a Constituição poderá ser substituída pelo Alcorão.
Deixando de lado essa preocupação, volto a registrar a elevação do fenômeno político que ocorreu no Egito e dizer que os ditadores espalhados pelo mundo devem tomar as lições da praça Tahrir, da força do povo, do poder da conscientização política que estoura no momento certo, ainda que demore.
Não é a primeira vez que o povo egípcio rebela-se contra a opressão. Em 1952, os cidadãos de Cairo foram às ruas para depor o rei Faruk e pôr fim ao domínio britânico. Desses acontecimentos, surgiu a proclamação da República do Egito. Nesse momento da história egípcia, destacou-se o líder Gamal Abdel Nasser.
A “Esfinge colossal de pedra” já não boceja mais, como cantou Castro Alves em seu poema Vozes D´África; agora, ela grita, ela brada, não por Deus, lá no infinito, mas à humanidade inteira: o grito da liberdade.
Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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