O suplício de Xandão

     Todos ficamos estarrecidos com a imagem divulgada pelos órgãos da imprensa local, no dia 7 de julho passado, na qual se vê um homem amarrado a um poste de iluminação pública, nu, sem vida, que acabara de ser linchado pela população enfurecida de uma viela do bairro  São Cristóvão, nesta cidade de São Luís, paradoxalmente conhecida como Ilha dos Amores. O fato ocorrera no dia anterior (6) e não foi o único nos últimos anos. E continuam se repetindo outras tantas brutalidades desse jaez.

     O homem linchado era Cleidenilson  Pereira da Silva, conhecido como Xandão, com 29 anos de idade. Em uma tentativa de assalto, foi imobilizado pelo dono do bar e, em seguida, amarrado em um poste, sendo rasgadas suas vestes e agredido com fúria, com pedradas, socos, cortes com pedaços de vidro, pelos populares convocados para aquele ato de barbárie.

     Xandão não tinha antecedentes criminais. Era um filho estimado pelos pais, os quais admitem como sua única falta o hábito de fumar maconha. Tudo indica que foi seu primeiro assalto, acompanhado por um adolescente de 16 anos, também espancado, sendo salvo pela chegada da polícia.

     O que é assustador é que esse episódio  reflete uma  prática que vem se ordinarizando em São Luís e tem apoio de considerável parte da população. Mais lamentável é que as vítimas são, em sua maioria, jovens ou menores.

     (Por falar em menores, a manifestação de alegria, com faixas e gritos efusivos dos deputados ao ser aprovada a emenda da redução da maioridade penal, demonstrou o quanto anda desinformada a elite política brasileira para quem o menor infrator é um perigo nacional).

     O linchamento sob o argumento de que a justiça não pune é insustentável e fruto de falta de informação. As prisões estão abarrotadas e inúmeros mandados de prisão estão prontos para serem cumpridos. O Brasil é o quarto país do mundo com maior população carcerária. De repente, parece que o povo quer a volta dos castigos corporais, da lei do talião, do esquartejamento. Enfim, a pena de morte instantânea, sem julgamento.

     O jurista italiano Gustavo Zagrebelsky tem um estudo profundo intitulado A crucificação e a democracia, no qual analisa o processo de Jesus e a participação do povo. Para ele a população que gritava crucifique-o! tinha pressa, era totalitária, instável, emotiva, extremista e manipulável. Alguma semelhança com a mesma que executou Xandão?

     A ânsia de punição exacerbada está levando a população a perder a temperança e descambar para a irracionalidade, jogando o direito e a justiça na lama, com risco de tornar-se uma espiral de violência sem controle.



Lourival Serejo

     Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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