Esses azevedos geniais

Ao sair do cinema, depois de assistir ao filme Trinta, no qual são destacadas a vida e a obra de Joãozinho Trinta, fiquei enumerando outros maranhenses já falecidos, que mais se consagraram no Rio de Janeiro, alterando a história da literatura brasileira. Lembrei-me de Coelho Neto; Aluísio Azevedo; Artur Azevedo; Humberto de Campos; Viriato Corrêa; Odilo Costa, filho; e Josué  Montello. Posso estar me esquecendo de outros nomes, mas esses são os principais na esfera da minha lembrança.

Para os jovens, é preciso esclarecer que o Rio de Janeiro a que me refiro era a capital federal e o centro cultural do país, para onde afluíam todos os artistas, em busca do reconhecimento de seus talentos. Em parte, ainda é até hoje. 

Agora, leio pelos jornais que, dentre as iniciativas para comemorar os 450 anos da cidade do Rio de Janeiro, foram escolhidos 450 nomes de pessoas que influenciaram sua história ao longo desses anos. São pessoas que dedicaram seus talentos para o estudo e o engrandecimento  daquela cidade. 

Ao ler essa relação de nomes, tive a melhor das surpresas ao me deparar com os nomes de Joãozinho Trinta, Artur Azevedo e Aluísio Azevedo.

 A presença dos dois irmãos Azevedos confirma o prestígio e a genialidade desses maranhenses que deixaram seus nome inseridos na literatura brasileira de forma perene e com expressões capazes de mantê-los sempre atuais.

Em crônicas anteriores, já exaltei, até de modo insistente, a contemporaneidade de Aluísio Azevedo, que tem seus livros continuamente editados, mesmo depois do centenário do seu falecimento.

De Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo, merece que seja dito a mesma coisa. Vejam que, só neste ano, já foram publicadas três obras de e sobre Artur Azevedo, todas consagrando seu talento no conto, na crônica, no teatro, na poesia e como colecionador.  A primeira publicação foi o luxuoso álbum A coleção de Artur Azevedo, organizado por Frederico Silva, sob o selo do Geia. A segunda, foi o livro O Rio de Janeiro de Artur Azevedo, de Tatiana Oliveira Siciliano (Editora Mauad X). E a terceira, foi uma edição especial da Confraria dos Bibliófilos do Brasil, com o título A moça mais bonita do Rio de Janeiro e outros contos. Em 2008, por ocasião do centenário do seu falecimento, foram editadas várias obras de sua autoria. 

Nosso confrade Antônio Martins Araújo é autor de uma excelente obra, intitulada Arthur Azevedo: a palavra e o riso (Perspectiva, 1988), na qual analisa os processos linguísticos de comicidade no teatro e na sátira desse teatrólogo maranhense. Ao final desse livro, conclui com esta acertada análise: "Apesar de já haver passado um século sobre parte dessa obra, mercê de suas qualidades literárias e linguísticas, ela promete sobreviver como testemunha da alegria de um povo e da permanência de toda uma época".

Como pesquisador da obra de Aluísio Azevedo, regozijei-me com a homenagem que o Rio de Janeiro fez ao seu nome neste ano de comemoração pelos 450 anos daquela cidade maravilhosa, denominação, aliás, dada por outro notável maranhense: Coelho Neto, injustamente esquecido na mencionada lista.

Em seus romances O cortiço e Casa de pensão, Aluísio Azevedo retrata, com fidelidade, o ambiente social daquela sociedade no final do século XIX. Fonte de exaustiva pesquisa, O cortiço ainda hoje é festejado como um dos melhores retratos do Rio de Janeiro antigo, justamente por refletir o outro lado da sociedade carioca então desconhecida, sem as flores do Romantismo.

Vencendo o tempo e o fantasma do esquecimento, esses dois escritores maranhenses, Artur e Aluísio Azevedo, confirmam com seus talentos reconhecidos o porquê da permanência dos seus nomes em destacada quadra da literatura brasileira. 

Publicada no jornal O Estado do Maranhão, em 8 de abril de 2015.

Por: Lourival Serejo

Vice-presidente do TJ/MA e membro da Academia Maranhense de Letras



Lourival Serejo

     Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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