Humberto de Campos redivivo

Há poucos dias, em breve palestra sobre Coelho Neto, no Café Literário do Centro de Criatividade Odilo Costa, filho, fiz, logo de início, esta pergunta: É possível reabilitar Coelho Neto?  A resposta só podia ser não, apesar de tantas e tantas tentativas feitas por intelectuais como Brito Broca, Alfredo Bosi etc.  Essa mesma pergunta vale para Humberto de Campos, com a mesma resposta.

O destino de Coelho Neto e de Humberto de Campos se entrelaça pela amizade, pela morte e pelo esquecimento a que foram condenados. Morreram no mesmo ano – 1934 –, apenas com uma semana de diferença. Ambos fizeram, por consequência, neste 2014, 80 anos de falecimento. Coelho Neto faleceu com 70 anos de idade, enquanto Humberto de Campos tinha apenas 48 anos. O autor de Turbilhão ainda faz, neste ano,  150 anos de nascimento.

Eis que, para surpresa dos admiradores de Humberto de Campos, surge, agora, uma publicação especial de algumas obras suas para comemorar a passagem dessa data.  A notícia lida no Caderno Prosa e Verso, do jornal O Globo, de 6 de dezembro passado, informa o lançamento de quatro volumes da Série Humberto de Campos – Renascendo 80 anos depois, pela editora Tinta Negra. A coleção está acondicionada numa caixa e compõe-se dos seguintes títulos: a)Diário secreto; b) Poesias completas; c) Contos satíricos do Conselheiro XX; e d) Contos e crônicas. O lançamento ocorreu na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro.

Essa publicação reabilita Humberto de Campos do esquecimento em que dormitava. Não importa que seja fugaz. Para marcar essa data, não haveria melhor presente à memória de quem tão bem soube trabalhar a memorialística em nossa literatura. 

Depois de sua morte, Humberto de Campos mereceu o privilégio da publicação de sete biografias, o que é raro para um escritor brasileiro. Refiro-me às biografias que conheço e que se encontram em minha biblioteca. São elas: a)Picanço, Macario de Lemos. Humberto de Campos. Rio de Janeiro: Minerva, 1937; b) Vieira, Hermes. Humberto de Campos e sua expressão literária. São Paulo: Cultura Moderna, sem data; c) Reis, Roberto; Carvalho, Lúcia Helena;  Souza, Roberto Acízelo de. O miolo e o pão. Rio de Janeiro: EDFF - INL, 1986; d) Lebert, Maria de Lourdes. Humberto de Campos. São Paulo: Melhoramentos, sem data; e) Ramos, Clóvis. Ano centenário de Humberto de Campos. São Luís: Sioge, 1986; f) Campos Filho, Humberto de. Irmão X, meu pai. São Paulo: Lúmen Editorial, 1997; g) Coelho, Amparo. Humberto de Campos, evocações de uma vida. São Luís, 2005.

Aqui, no Maranhão, em 2009 e 2010, o Instituto Geia teve a iniciativa de editar três obras de Humberto de Campos: Memórias, Memórias Inacabadas e  Diário Secreto. Uma atitude que já tive oportunidade de elogiar em crônica anterior. As obras completas de Humberto de Campos foram lançadas pela Editora  W. M. Jackson, em 1945, com sucessivas reedições.  Depois saíram alguns títulos esparsos. O Diário Secreto, em dois volumes,  teve sua primeira edição patrocinada pela editora da Revista Cruzeiro e só era encontrado em sebos. Desde a publicação do Geia, os leitores tiveram oportunidade de conhecer a mais polêmica das obras do escritor maranhense. 

Nossos cursos de Letras deveriam insistir na pesquisa e na divulgação das obras de Coelho Neto e de Humberto de Campos, pelo valor que encerram, como fez agora a professora Aline Haluch, responsável por essa publicação que ora se anuncia, depois de dedicar-se, em tese  de doutorado, ao estudo da revista ilustrada A maçã, editada pelo autor de  Sombras que sofrem.

Volto a insistir, embora de efeito breve, essa publicação revive  Humberto de Campos,  em seus 80 anos de falecimento. 

Publicado no jornal O Estado do Maranhão, em 21 de dezembro de 2014.

Por: Lourival Serejo

Vice-presidente do TJ/MA e membro da Academia Maranhense de Letras



Lourival Serejo

     Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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