Crônica dos Jovens Assassinados

     Quem observa as manchetes dos nossos jornais diários e as estatísticas que sempre são estampadas em relação aos crimes ocorridos em São Luís, constata o elevado índice de jovens entre as pessoas que são quase diariamente assassinadas. Geralmente, são rapazes entre 17 a 24 anos de idade. No mês de março, numa relação de 45 vítimas de assassinatos, divulgada por um matutino local, contei 23 jovens nessa faixa etária. Esse fenômeno não é privilégio do Maranhão. O Brasil é o sexto país no ranking mundial dos jovens assassinados.

     Ao iniciar o capítulo segundo do seu livro Ladrão de cadáveres, Patrícia Melo, pela boca de um repórter, diz que nos próximos quatro anos, vão morrer trinta e três mil jovens assassinados, entre pretos, pobres e pardos.

     São pessoas tragadas pela morte em pleno vigor da juventude. Destemidos infratores da lei, morrem como animais, sem dignidade e sem história. Alguns já colecionam uma série de crimes em seu currículo, como um rapaz que mataram recentemente, na Litorânea, enquanto bebia água de coco. No outro dia, ninguém mais fala deles. Algumas pessoas até aplaudem os matadores, como se fossem justiceiros, executores de uma pena de morte silenciosa, que ainda consegue ter defensores na sociedade, apesar do reconhecimento crescente dos direitos fundamentais.

     Esse fenômeno do esquecimento e da aquiescência popular faz lembrar a figura do homo sacer, que se encontrava no ordenamento jurídico e religioso romano, o qual podia ser morto sem que isso configurasse homicídio, pois eram pessoas “matáveis”, vidas sem valor e indignas de serem vividas.

     O debate sobre o grau de maturidade de alguns desses rapazes, menores de 18 anos, tem despertado muita polêmica, pelos argumentos favoráveis ou contrários, os quais são defendidos por juízes, educadores, advogados e membros do Ministério Público.

     O jovem não tem medo da morte, daí o maior número de suicídios entre eles. Já os velhos – ávidos por prolongarem a vida que começa a se extinguir – temem a morte e se resguardam com mais atenção.

     Dentre tantos assassinatos de jovens, um deles me chamou a atenção, ao ler a notícia pela internet. O fato ocorreu no mês de março, no estado do Paraná, e se refere a um jovem de 15 anos que foi assassinado com vários tiros. Como a violência já não nos surpreende mais, nada de novo, a princípio, constatamos nessa notícia.

     O surpreendente é que o velório desse rapaz foi invadido por seis homens armados, que detonaram vários tiros contra o defunto.

     A fome de matar não ficou saciada com a morte da vítima. Quiseram mais: matar o defunto. Se é um absurdo lógico “matar um defunto”, para aqueles homens havia uma realização bestial em renovar a execução, até para ficarem garantidos de que não haviam falhado.

     O penalista diria que se trata de um crime impossível, por um lado, e vilipêndio de cadáver, por outro. Mas nada disso tem importância para os assassinos repetidos, os quais queriam matar o rapaz duas vezes para exprimir o ódio que sentiam (teria sido traição ou dívidas de tóxicos?) e gozar da satisfação da vingança.

     É difícil acreditar que um jovem de 15 anos tenha semeado tanto ódio em sua curta vida, a ponto de seus inimigos o assassinarem duas vezes.

     Os 23 jovens assassinados no mês de março deste ano, em São Luís, poderiam, em poucos anos, estar formados em Medicina, suprindo a permanente carência de médicos neste estado. Ou poderiam ser 23 poetas. O mundo precisa de poesia para aprender a ver as coisas belas da vida. Mas o estado de pobreza em que nasceram e morreram esses rapazes não permitia que se desenvolvessem suficientemente sadios para, ao menos, sonharem com um curso superior ou serem trovadores das palavras.

     Se os jovens estão morrendo com tanta frequência e facilidade, alguma coisa está errada com a sociedade, que lhes nega o direito de uma vida digna, para continuarem vivos e terem um lugar nesse mundo de competitividade.

     Educação adequada, emprego, estabilidade econômica da família, a ausência de tudo isso e mais outras coisas que giram em torno da dignidade humana, levam esses jovens a ser vitimizados com tanta frequência e facilidade, como vagabundos que o mundo repeliu, mas vivem nos filmes e nas ruas tortas, como disse o poeta Drummond.

      


Suicídio é a segunda maior causa de morte entre jovens no mundo

(Notícia extraída da Folhaonline, no dia 22 de junho de 2012).

 

MARIANA VERSOLATO
DE SÃO PAULO

     Uma série de estudos publicada no periódico "Lancet" chama a atenção para um assunto tabu: o suicídio.

     Segundo um dos artigos, essa é a primeira causa de morte entre meninas de 15 a 19 anos. Entre os homens, o suicídio ocupa o terceiro lugar, depois de acidentes de trânsito e da violência.

     No Brasil, o suicídio é a terceira causa de morte entre jovens, ficando atrás de acidentes e homicídios.

"As taxas sempre foram maiores na terceira idade. Hoje a gente observa que, entre os jovens, elas sobem assustadoramente", afirma Alexandrina Meleiro, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP.

     Entre os jovens, a taxa multiplicou-se por dez de 1980 a 2000: de 0,4 para 4 a cada 100 mil pessoas.

     Segundo o estudo, os adolescentes evitam procurar ajuda por temerem o estigma e que rumores sobre seus pensamentos suicidas se espalhem pela escola.

     Há outra mudança no perfil dos que cometem suicídio. O risco, que sempre foi maior entre homens, tem aumentado entre as meninas.

     Segundo Meleiro, isso se deve a gestações precoces e não desejadas, prostituição e abuso de drogas.

SILÊNCIO

     O problema, porém, é negligenciado, como mostram dados da OMS (Organização Mundial da Saúde). A entidade afirma que os casos de suicídio aumentaram 60% nos últimos 45 anos e que 1 milhão de pessoas no mundo morrem dessa forma por ano.

No Brasil, estima-se que ocorram 24 suicídios por dia. O número de tentativas é até 20 vezes maior que o de mortes.

"O suicídio é uma epidemia silenciosa. E o preconceito em torno das doenças mentais faz com que as pessoas não procurem ajuda", diz Meleiro. Cerca de 90% dos suicídios estão ligados a transtornos mentais.

     Segundo a OMS, pouco tem sido feito em termos de prevenção. Os pesquisadores, da Universidade de Oxford e da Universidade Stirling, na Escócia, dizem que mais pesquisas são necessárias para compreender os fatores de risco e melhorar a prevenção.

     Uma estratégia é limitar o acesso a meios que facilitem o suicídio, como armas.

     Meleiro diz ainda que as pessoas costumam dar sinais antes de uma tentativa. "Acredita-se que perguntar se a pessoa tem pensamentos suicidas vai estimulá-la, mas isso pode levá-la a procurar ajuda."

     A psiquiatra da infância e da adolescência Jackeline Giusti, do Hospital das Clínicas da USP, afirma que é importante prestar atenção a sinais de automutilação nos adolescentes, porque a prática aumenta o risco de suicídio.

"Professores, clínicos e pediatras têm que ficar atentos a essa possibilidade e investigar. É um sinal de que algo não está legal e merece cuidados. Em geral os adolescentes que se mutilam são deprimidos, têm ansiedade e têm uma dificuldade enorme pra dizer o que estão sentindo ou para pedir ajuda."

 

Por: Lourival Serejo                                                                                                                                    

 

 



Lourival Serejo

     Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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