O Ministro, o Anzol e a Minhoca

Por: Lourival Serejo


A declaração do recém-nomeado ministro da pesca de que não sabia nem colocar uma minhoca no anzol provocou-me uma série de conjecturas que me impeliram a convertê-las em palavras escritas.

Primeiramente, remeteu-me à infância quando, no inverno, saíamos para pescar piaba, jeju, acará-preta e piranha, nas beiradas dos quintais alagados, lá em Viana. Antes de sairmos para essa atividade, costumava apanhar uma enxada para buscar as minhocas que abundavam nas terras pretas do quintal da minha casa e, depois de selecionadas, colocávamos numa lata vazia. 

Sempre que é designado um novo ministro para uma pasta fico me indagando: será que ele entende desse assunto? Na troca do ministro dos esportes, também fiz essa reflexão. Lembro-me que, quando da indicação de Delfim Neto para ministro da agricultura, os jornais disseram que ele não conhecia um chuchu. Será que o ministro da defesa entende de armamentos?

Minha curiosidade foi atendida, quando, numa roda de conversa, em Brasília, perguntei a um antigo servidor de um ministério sobre essa perplexidade. Disse-me ele que essas situações paradoxais eram possíveis porque em todo ministério havia um secretário executivo que entendia de tudo e supria a ausência de especialidade do novo chefe.

Esse tema nos direciona para o folclore político maranhense, que narra o caso de uma senhora analfabeta que fora nomeada como professora. Ao ser advertido, o governador indagou a Vitorino Freire o que fazer com a nomeada, ao que, segundo conta a lenda, teria o líder político respondido prontamente: Aposente-a. 

Afastados esses aspectos cômicos, entendo que estamos diante de um caso lamentável. As nomeações de um secretário de estado e de um ministro deveriam recair em pessoas habilitadas tecnicamente para o exercício do cargo. Enquanto o fator político for mais importante nessa escolha, nunca teremos uma gestão voltada efetivamente ao bem comum. Para enfrentar o fluxo das renovações, impõe-se adotar a ética da responsabilidade como catecismo de ação. 

Uma minhoca, aparentemente, não desperta nada de relevante, mas pode acarretar consequências incalculáveis ao país se o ministro da pesca não souber colocá-la no anzol sem ter seus dedos finos espetados em suas farpas. 


Publicada no jornal "Agora Santa Inês", em 7 de março de 2012.



Lourival Serejo

     Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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