NELSON GONÇALVES – 100 ANOS DA CHEGADA DO BOÊMIO

      Neste 21 de junho, o Brasil comemora o centenário de nascimento de Nelson Gonçalves, o Rouxinol, com notas musicais em todos os tons, pelos violões, guitarras, bandolins, sax, cavaquinhos, baterias, radiolas, vitrolas, discos, Cds, pendrives e tudo que produz e armazena sons. É o aniversário do Rei do Rádio, nascido em Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul.

     Como não temos mais os boêmios de outrora, só nos resta – aos maiores de 60 anos – comemorarmos em casa, ouvindo os boleros e vibrando com a voz soberana de Nelson Gonçalves, de preferência por um LP, numa radiola qualquer, para ficar mais autêntica a homenagem.

     Há cantores que deixam sua voz por várias gerações e continuam vibrando os sentimentos, mesmo depois de mortos. É o caso de Nelson Gonçalves, assim como Cauby Peixoto, Raul Seixas, Tim Maia, Waldick Soriano, Anísio Silva, Tom Jobim, e muitos outros que passaram para o além.

     Ainda criança, empolgava-me ouvindo A volta do boêmio, no botequim de Dico de Estefânia, perto da minha casa. O disco rodava e a platéia comentava qualquer coisa, às vezes à luz de um Petromax, pois a radiola era a pilha. Aquele boteco era um óasis iluminado que se distinguia na escuridão da rua. E seus frequentadores ficavam unidos ao som dos boleros Meu dilema, Meu vício é você, Boneca de trapo e todo o repertório de um LP já arranhado de tanto ser tocado.

     Foi emocionante assistir, meses atrás, no teatro Clara Nunes, na Gávea, à peça “Nelson Gonçalves, o amor e o tempo”, com os atores Guilherme Logullo e Jullie. O enredo da peça é um texto de Gabriel Chalita. O casal de cantores vive um enlace em torno das músicas de Nelson Gonçalves: Carlos Gardel, Negue, Pensando em ti, Naquela mesa, Doidivana, A volta do boêmio, Caminhemos, dentre outras.

     A vida desse artista que consolou muitos corações amargurados é repleta de altos e baixos, consoante a sua personalidade complexa. Entre mulheres, drogas, cabarés, palcos, bebidas, sua voz singrava por essas ondas com a energia e o toque romântico que prendiam seus fãs.

     Até agora foi publicada só uma biografia de Nelson Gonçalves: A revolta do boêmio, por um autor quase desconhecido, Marco Aurélio Barroso. A leitura desse livro se torna monótona porque não é dividido em capítulos, nem outra forma de espaço entre os assuntos. Pelo acervo de documentos e informações, o autor deve ter tido o apoio da família do biografado, tanto que as últimas três páginas, das 374 que formam o livro, foram escritas por Leninha, a filha mais velha de Nelson. Por ter feito referência a essa biografia, tenho que fazer este registro: a verdadeira data de nascimento de Nelson é 25 de junho, conforme a certidão de nascimento e o título de eleitor retratados pelo autor. Não sei o porquê de ter sido firmado o dia 21 como seu aniversário.

     Pela leitura esparsa dessa obra fiquei sabendo que Nelson Gonçalves foi registrado como Antônio Gonçalves. Não há o apelido “Nobre” nem “Sobral”, como se vê em alguns sites. Seus pais eram portugueses: Manoel Gonçalves e Libânia de Jesus. O nome artístico Nelson foi-lhe dado por sua professora de canto, Sônia Carvalho.

     O autor de A revolta do boêmio desfaz várias lendas envolvendo Nelson Gonçalves, mostra suas virtudes e defeitos e retratando toda a sua trajetória. Com esses dados biográficos, é possível concluir que ele não tinha suficiente equilíbrio emocional para conviver com o sucesso que alcançou.

     Para quem vendeu mais de 81 milhões de discos, é plenamente justificável que os seus fãs comemorem o seu centenário de nascimento. Louvo, como filatelista, a iniciativa dos Correios em emitir, neste dia, um selo comemorativo por essa data.

     Como já disse, nas últimas páginas da biografia feita por Marco Aurélio Barroso, a filha de Nelson Gonçalves, Marilene (Leninha), dirige-se ao pai falando da sua tristeza, da sua adolescência e das suas mulheres, e conclui com a melhor de todas as sínteses: “Você veio só para cantar!!!”.

Por: Lourival Serejo 



Lourival Serejo

     Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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